Chegou à porta.
Um frio glacial me percorre a espinha. Sim, é ela.
Vestido vermelho, superdecotado, como nas cenas mais clichês do cinema. O corpo tão à mostra, tão explícito erotismo. Ela, que já foi revolucionária, agora quer ser apenas coisa.
Já havia me contado uma vez - recordo enquanto finjo escrever - sua inveja das putas. “Invejo as putas porque elas são objetos. Coisas, objetos não têm sofrimento.”
Abro a gaveta para procurar um pente e encontro o comprimido para dor de cabeça. Engulo, assim, a seco mesmo. Mãos trêmulas, boca sem saliva. Ora, por que o nervosismo?
O que ela realmente invejava nas putas era o seu lado mercadoria, a facilidade de se oferecer, o impudor, o orgasmo fácil, o rápido coito e a ausência de culpa.
Veio buscar o suéter esquecido no armário há meses. Entrou sem nada dizer. Me senti observado. Notou minhas resenhas no lixo. Seria sádica? Teria vindo até ali só para rir da minha decadência? Da minha impotência criativa?
Da porta até o armário, caminhou mostrando as curvas. Mexeu o cabelo que esconde um inconsciente cheio de problemas. Imediatamente, me veio à mente a frase: “o explícito nega a transgressão.” Ela, que quis tanto a liberdade, a banalizou. Revelou tudo e estragou a aura mística do pecado. Ela é um tesão que me brocha.
Abro um sorriso verdadeiramente sádico. A idéia finalmente flui. Me delicio com perversões poéticas. Escrevo como há muito não escrevia. Com o que me divirto? Riu do quanto um pé na bunda me fez andar para frente.
terça-feira, 26 de junho de 2007
domingo, 24 de junho de 2007
Simplicidade
Hoje está sendo um dia estranho. Vazio.
Dia preguiçoso, irritante... Dia que parece pedir para nós que façamos algo antes que o tédio e o sono vençam.
Em dias assim, só me resta render aos encantos de uma voz céltica que me acompanha quase sempre. Loreena Mckennitt.
Uma paz confortante me invade. Volto a acreditar que existem pessoas especiais e que encaram o mundo de uma forma muito diferente. Ainda vivem as grandes sacerdotisas. Loreena é uma delas. Através de sua voz, suas letras, e do pequeno diário de viagem que coloca em cada encarte de seus discos, consegue fazer com que eu desperte a minha também.
Estou lendo agora o encarte de "The book of secrets", em que ela diz:
"Ao longo de todos os anos durante os quais meditei sobre as características distintas dos Celtas, comecei a interrogar-me se os seus lendários costumes nômades nasceram de uma necessidade interior. De uma resposta involuntária ao invés de pragmática, de uma inquietude que teve as suas origens em uma curiosidade insaciável.
Penso que foi a minha crescente consciência da minha vontade de vaguear e curiosidade que me alertaram para a verdadeira sensação de ligação que sentia em relação à linhagem Celta, como parte daquela extensão do Novo Mundo de uma pessoa que vagueia incrivelmente longe...
...A minha esperança é de que este trabalho possa estimular a curiosidade do mesmo modo que os melhores livros de viagens. As melhores recordações de todas as viagens, sejam elas imaginárias ou reais, são aquelas que nos recordam que as vidas das pessoas são fortalecidas pela família e amigos, pelas nossas tentativas de criar a vida de alguém como se cria uma obra de arte e os nossos esforços para conciliar as nossas necessidades materiais com a importância das nossas relações com os outros".
sábado, 16 de junho de 2007
Confusão na CPI do rei-do-gado
Depois de dar um bom trago, disse ao garçom:
- Um copo bem carregado da purinha, por favor.
Queríamos estar “bem ligados” naquela reunião de arrocha ao senador rei-do-gado. Imagine só! Quando teríamos novamente uma chance dessas? Uma CPI para investigar o Presidente do Senado aberta aos estudantes de Comunicação Social.
Eufóricos, trêmulos, caminhamos todos até a sala da Comissão Parlamentar. Muitos cabos, câmeras e micro câmeras, celulares ligados, bloco de notas, cotoveladas para defender um bom lugar na platéia.
Entramos. O espetáculo já tinha começado.
Renan Calheiros se defendia. Trinta minutos de muita redundância até que me incomodou profundamente aquela cara de “roubei sim e tudo-bem-vai-fazer o quê?”, levantei e:
- Este país é uma bosta! – disse triunfante.
Para minha surpresa, um estudante de jornalismo, boçal como eu, se levantou solidário:
- Senhores, me parece que já vi esta cena antes. É CPI do Orçamento, do Narcotráfico, dos Correios, dos Bingos e Mensalão, do Judiciário, do apagão Aéreo... Ha ha ha... No Brasil, nada mais dejá vu que a corrupção!
Um, depois outro, e mais um. Aos poucos, vários estudantes foram se levantando e cada um tecendo suas críticas à política nacional. Foi realmente uma cena ímpar na História recente do nosso país. Argumentos dignos de palestras e tão convincentes que deixaram os próprios políticos tensos e suados. Havia talento, lirismo!
Mas algo descompassou e a emoção transbordando foi afogando todo o discurso numa monstruosa gritaria. Quando um congressista gritou a plenos pulmões:
- A democracia está sendo desmoralizada! Ou ficam quietos ou os militares terão de entrar.
Aquilo irritou ainda mais os estudantes e a confusão se instalou. Empurrões, safanões, assim à brasileira, fomos descendo as escadas da Comissão.
- E foi assim que tudo aconteceu, Seu Policial.
- Ok, tá liberada, mas se vacilar de novo...
- Um copo bem carregado da purinha, por favor.
Queríamos estar “bem ligados” naquela reunião de arrocha ao senador rei-do-gado. Imagine só! Quando teríamos novamente uma chance dessas? Uma CPI para investigar o Presidente do Senado aberta aos estudantes de Comunicação Social.
Eufóricos, trêmulos, caminhamos todos até a sala da Comissão Parlamentar. Muitos cabos, câmeras e micro câmeras, celulares ligados, bloco de notas, cotoveladas para defender um bom lugar na platéia.
Entramos. O espetáculo já tinha começado.
Renan Calheiros se defendia. Trinta minutos de muita redundância até que me incomodou profundamente aquela cara de “roubei sim e tudo-bem-vai-fazer o quê?”, levantei e:
- Este país é uma bosta! – disse triunfante.
Para minha surpresa, um estudante de jornalismo, boçal como eu, se levantou solidário:
- Senhores, me parece que já vi esta cena antes. É CPI do Orçamento, do Narcotráfico, dos Correios, dos Bingos e Mensalão, do Judiciário, do apagão Aéreo... Ha ha ha... No Brasil, nada mais dejá vu que a corrupção!
Um, depois outro, e mais um. Aos poucos, vários estudantes foram se levantando e cada um tecendo suas críticas à política nacional. Foi realmente uma cena ímpar na História recente do nosso país. Argumentos dignos de palestras e tão convincentes que deixaram os próprios políticos tensos e suados. Havia talento, lirismo!
Mas algo descompassou e a emoção transbordando foi afogando todo o discurso numa monstruosa gritaria. Quando um congressista gritou a plenos pulmões:
- A democracia está sendo desmoralizada! Ou ficam quietos ou os militares terão de entrar.
Aquilo irritou ainda mais os estudantes e a confusão se instalou. Empurrões, safanões, assim à brasileira, fomos descendo as escadas da Comissão.
- E foi assim que tudo aconteceu, Seu Policial.
- Ok, tá liberada, mas se vacilar de novo...
sábado, 9 de junho de 2007
Eles não querem largar o osso.
No final deste ano será adotado o modelo japonês de TV digital. O que significa uma mudança técnica e não política. Depois de nos reduzir a rebanho e ignorar as reivindicações aos interesses públicos, o Ministro das Comunicações bateu seu martelo em favor dos empresários de radiodifusão.
Os “velhas mídias”, ou mega-concessionários que detém as únicas 5 redes nacionais de televisão, estão cegos e esclerosados se pensam que podem impedir a descentralização de poder e o compartilhamento de informação.
Cegos porque parecem não ver as transformações correntes na sociedade: a multiplicação “quase milagrosa” dos celulares, a possibilidade de interatividade no sentido de construção de conteúdos, a crise nas instituições (família, escola, hospital etc.). Esta última é a que mais temem, pois a crise afeta também a maneira como ainda se produz comunicação no Brasil. De forma unilateral e tendenciosa.
Esclerosados quando pensam que podem conter o avassalador “furacão da transição”, que descentraliza o poder de informação, espalhando-o por um número infinito de internautas que aos poucos se rebelam, criando sua própria mídia.
Mas o que se esconde debaixo dos argumentos que defendem a manutenção do atual sistema?
Hum... Creio que, durante esta averiguação, sentiremos um cheirinho de café. Lembram das oligarquias cafeeiras?
Os “velhas mídias”, assim como os oligarcas cafeeiros, não querem “largar o osso” pretendem perpetuar-se no poder.
Para diminuir essa manipulação, só o esclarecimento.
Na internet tem-se a chance de escrever e divulgar para sensibilizar a questão, mobilizar e organizar-se através das comunidades, enfim, as ferramentas estão aí, cabe a nós a responsabilidade de pensá-las. Mas, é preciso pressa, pois o controle político, com seus olhos famintos, já vem fitando há algum tempo a liberdade da rede.
Os “velhas mídias”, ou mega-concessionários que detém as únicas 5 redes nacionais de televisão, estão cegos e esclerosados se pensam que podem impedir a descentralização de poder e o compartilhamento de informação.
Cegos porque parecem não ver as transformações correntes na sociedade: a multiplicação “quase milagrosa” dos celulares, a possibilidade de interatividade no sentido de construção de conteúdos, a crise nas instituições (família, escola, hospital etc.). Esta última é a que mais temem, pois a crise afeta também a maneira como ainda se produz comunicação no Brasil. De forma unilateral e tendenciosa.
Esclerosados quando pensam que podem conter o avassalador “furacão da transição”, que descentraliza o poder de informação, espalhando-o por um número infinito de internautas que aos poucos se rebelam, criando sua própria mídia.
Mas o que se esconde debaixo dos argumentos que defendem a manutenção do atual sistema?
Hum... Creio que, durante esta averiguação, sentiremos um cheirinho de café. Lembram das oligarquias cafeeiras?
Os “velhas mídias”, assim como os oligarcas cafeeiros, não querem “largar o osso” pretendem perpetuar-se no poder.
Para diminuir essa manipulação, só o esclarecimento.
Na internet tem-se a chance de escrever e divulgar para sensibilizar a questão, mobilizar e organizar-se através das comunidades, enfim, as ferramentas estão aí, cabe a nós a responsabilidade de pensá-las. Mas, é preciso pressa, pois o controle político, com seus olhos famintos, já vem fitando há algum tempo a liberdade da rede.
sexta-feira, 1 de junho de 2007
Quem você escolhe: o PHT ou PHE?
Alunos, a realidade é forte: “dormimos em berço esplêndido”.
O que vem acontecendo conosco, estudantes?
A Universidade deveria ser um espaço de resistência, o “templo” das convergências e discórdias, dos questionamentos, do pensar, do filosofar, das loucuras, criatividade, ousadia, ideologias, e... bobagens, por que não?
Vivemos um transe hipnótico à espera de um Morpheus que nos faça a pergunta: “pílula vermelha ou pílula azul”? A terrível realidade ou a doce ilusão?
Pense: você realmente está pronto, maduro o suficiente para despertar desta "sessão de hipnose"?
No Brasil, há dois tipos de professores. O primeiro é o PHT (professor-hipnotizador tradicional), o segundo, PHE (professor-hipnotizador ericksoniano).
O PHT é como o José Serra, preocupa-se com a tabuada e prega o “MEMOREX”. É aquele hipnotizador que leva o aluno em transe para onde ele quer. Dá ordens, conduz a aula-hipnose segundo seus próprios critérios, consequentemente, desrespeita a autonomia do aluno.
Já o PHE observa o que está acontecendo com o aluno durante o transe do ensino, “cuida” dele até que chegue aonde quer chegar, fornece as ferramentas necessárias para que ele mesmo possa se desbloquear e dissolver aquilo que o limita.
Sendo assim, o transe pode ser mais significativo do que se pensa. Até porque, ele nada tem a ver com o relaxamento, pelo contrário. No transe o movimento cerebral é intenso. No relaxamento há uma diminuição da atividade dos neurônios.
Mas se no transe os neurônios trabalham mais, por que continuamos “babando” em aula?
As dificuldades de estudantes e professores são reflexos da fragilidade do sistema arcaico de educação. Momentos de transição como estes, sempre exigem de nós uma mudança de paradigma, um novo olhar, novas propostas... Debatedores: a hora é agora!
O que vem acontecendo conosco, estudantes?
A Universidade deveria ser um espaço de resistência, o “templo” das convergências e discórdias, dos questionamentos, do pensar, do filosofar, das loucuras, criatividade, ousadia, ideologias, e... bobagens, por que não?
Vivemos um transe hipnótico à espera de um Morpheus que nos faça a pergunta: “pílula vermelha ou pílula azul”? A terrível realidade ou a doce ilusão?
Pense: você realmente está pronto, maduro o suficiente para despertar desta "sessão de hipnose"?
No Brasil, há dois tipos de professores. O primeiro é o PHT (professor-hipnotizador tradicional), o segundo, PHE (professor-hipnotizador ericksoniano).
O PHT é como o José Serra, preocupa-se com a tabuada e prega o “MEMOREX”. É aquele hipnotizador que leva o aluno em transe para onde ele quer. Dá ordens, conduz a aula-hipnose segundo seus próprios critérios, consequentemente, desrespeita a autonomia do aluno.
Já o PHE observa o que está acontecendo com o aluno durante o transe do ensino, “cuida” dele até que chegue aonde quer chegar, fornece as ferramentas necessárias para que ele mesmo possa se desbloquear e dissolver aquilo que o limita.
Sendo assim, o transe pode ser mais significativo do que se pensa. Até porque, ele nada tem a ver com o relaxamento, pelo contrário. No transe o movimento cerebral é intenso. No relaxamento há uma diminuição da atividade dos neurônios.
Mas se no transe os neurônios trabalham mais, por que continuamos “babando” em aula?
As dificuldades de estudantes e professores são reflexos da fragilidade do sistema arcaico de educação. Momentos de transição como estes, sempre exigem de nós uma mudança de paradigma, um novo olhar, novas propostas... Debatedores: a hora é agora!
Assinar:
Postagens (Atom)