domingo, 16 de setembro de 2007

Estação Imaginário


Nesta última sexta-feira, mesmo cansada, estive e não me arrependo nem um pouco, num evento super bacana na antiga Cadeia de Santos, hoje Oficina Cultural Pagu. A entrada era apenas 1kg de alimento não perecível!
Vários artistas que estão começando mostraram muita sensibilidade, senso crítico e o mais importante: poesia.
Uma mistura de grafite, pintura, desenho à mão, vídeos e uma série de outros elementos utilizados para interagir com o expectador das obras.
Eu, que adoro desenhos e poesia, fiquei extasiada, pois já tinha perdido minhas esperanças em jovens criativos da baixada. Para minha alegria, eles me surpreenderam principalmente pela percepção que têm do mundo. Uma perceção feminina.
Pronto, agora os machões vão me lascar de críticas.
A temática das obras teve muito a ver com a nossa ligação com o mundo. Ligação afetiva e instintiva. Uma dor e um questionamento sobre um possível desligamento com a Terra, o que ocorre atualmente em nossos tempos tão dedicados ao trabalho, ao lazer do consumo e raramente dedicados ao nosso interior e origem.
Além do mais, a exposição foi uma prova de que a verdadeira essência do artista não está apenas em antender a demanda do mercado, a fuçar no Corel Draw, a fazer milagres no Photoshop, a ser diretor ou estagiário de criação. Artista é o espeto na mente a que Sócrates se referia, eu digo que artista é o alfinete na bunda dos incomodados e mais, é o que não nos deixa parar, desistir. A arte é o que impulsiona o homem, é ela quem o lembra de si, dos medos, desejos e sonhos. É loucura, mas sem perder a consciência. É sim, contradição, mas que leva a algumas certezas.
Ai que bom eventos como esses....

domingo, 5 de agosto de 2007

Operação: Mente Criminosa


Não é objetivo deste blog fazer apologias ao heavy metal. Mas como não comecei a ouvir metal ontem, portanto, é inevitável não citá-lo, ele faz parte da minha vida, das minhas idéias, do que acredito. E pode chamar-me de louca, não nego, "acredito que boas músicas podem sim, mudar o mundo!"

"Operation Mindcrime"(1988) é, para mim, um dos melhores álbuns da história do metal. Não somente pelo som "progmetal", mas, principalmente, por suas letras de críticas sociais.
Queensrÿche é uma banda americana e não poupou críticas ao modo de vida de sua própria sociedade. Neste álbum, uma música é a continuação da outra, como numa ópera-rock.

Beirando ao punk, "Operation Mindcrime" conta a história de Nikki, um dependente de drogas que quer fazer alguma coisa para mudar a sociedade, mas que se vê envolvido num plano criminoso elaborado pelo maquiavélico Dr.X que se aproveita de sua dependência química para o manipular, controlar.

Podemos até não usar drogas, mas quem nunca se sentiu como Nikki?
O desejo de mudar o mundo castrado por todos os tipos de imposições, dominações, ou até mesmo, uma aparentemente inofensiva mensagem subliminar.
Então, fica aqui a tradução da faixa 3, "Revolution Calling", pra quem gosta de peso, velocidade e transgressão.
Quem quiser ouvir pode fazer o download aqui, ou então, falar comigo.

Revolução Chamando

Por um preço eu faria de tudo
Exceto puxar o gatilho
Para isso eu precisaria de um ótimo motivo
Então ouvi sobre o Dr.X
O homem com a cura
Confira na televisão
yeah, você verá algo acontecendo

Não amo os políticos
Nem a cena louca da capital
Uma cidade maluca em polvorosa
Mas o momento é oportuno pra mudanças
Há um sentimento crescente
De que ter uma chance
Em um novo tipo de visão é necessário

Eu costumava confiar na mídia
Pra me dizer a verdade, dizer-nos a verdade
Mas agora eu tenho visto os resultados
Onde quer que eu olhe
Em quem você confia
Quando ninguém presta?

Revolução chamando
Revolução chamando
Revolução chamando você
(Há uma) Revolução chamando
Revolução chamando
Temos que mudar
Temos que levá-la, levá-la a cabo

Estou cansado de toda essa besteira
Que eles ficam me vendendo na TV
Sobre o plano comunista
E todos os oradores sombrios
Implorando pela minha grana
Contas em bancos na Suíça enquanto eles
Dão um trato em suas secretárias

Elas estão todas na Penthouse agora
Ou na revista Playboy
Histórias milionárias pra contar
Acho que Warhol não estava errado
Quinze minutos de fama
Todos usando todos
Fazendo comércio

Eu costumava achar
Que apenas o modo americano
Era o modo certo
Mas agora o santo dólar
Rege a vida de todos
Vou ganhar um milhão
Não importa quem morra

Revolução chamando Revolução chamando
Revolução chamando você (Há uma)
Revolução chamando Revolução chamando
Temos que mudar
Temos que levá-la, levá-la a cabo

Eu costumava confiar na mídia
Pra me dizer a verdade, dizer-nos a verdade
Mas agora eu tenho visto os resultados
Onde quer que eu olhe
Em quem você confia
Quando ninguém presta?

Revolução chamando
Revolução chamando
Revolução chamando você (Há uma)
Revolução chamando Revolução chamando
Temos que mudar
Temos que levá-la, levá-la a cabo

Há uma revolução!

...Trim!...Trim!
O telefone não parou de tocar desde o
Encontro hipnótico com Dr. X.
Seu plano é brilhante em sua simplicidade:
Assassinato e substituição.
Ele chama de “Operação: Crime Mental”
E Nikki é a peça chave

Nikki tem uma fraqueza.
Gosta da agulha
Dr. X se assegura que Nikki
sinta-se tão bem que possa fazer um bom trabalho
O “Anjo da Morte” escolhido
É então facilmente manipulado através de
Sugestão subliminar pelo telefone
A senha para entrar no cérebro de Nikki é
“crime mental”

domingo, 29 de julho de 2007

A didática de um país em crises.


Acredito no que dizem alguns intelectuais sobre a existência de dois Brasis.
Um que trabalha por meios honestos, na superfície. E um outro funcionando como dutos de corrupção, com ratos infiltrados em inúmeras instituições, agindo no submundo como fortes organizações que juntas roubam, corrompem.



Em algum momento, de certa forma, ambos se misturam e aí fica difícil separar o país do subúrbio ou o joio do trigo.


O Brasil - como um todo – tem tantos problemas que até fica difícil escrever sobre eles. Ai, meu Deus, por onde começar?
Bem, pode ser útil perguntar: “afinal, para quê servem as crises?”
As crises podem ser didáticas. Renan Calheiros, por exemplo. Sua vaidade patológica e a insistência inútil em continuar no Senado após todos os absurdos relembraram-nos, como numa revisão de aula, o quanto é forte o poder das oligarquias.

Inácio Arruda (PC do B) afirmou “todos são ladrões no Senado, com poucas exceções”.
Ora, ora, será Inácio uma delas? Assim, Inácio foi como a professora que sem paciência esfrega a cara do aluno no caderno de lições como se dissesse: Veja como são todos os políticos, mesmo nas piores crises não perdem a oportunidade de se promoverem.

Quando se cogitou culparem os controladores aéreos pela morte de mais de 150 pessoas no ano passado, aprendemos como é típica do Brasil a paranóia de se procurar um culpado a qualquer preço.

Depois de ter optado por um plano sugerido pela Telefônica como mais econômico, abri ontem a última conta, e depois do susto pude aprender como as grandes corporações mentem para aumentarem seus lucros. Assim como mentiu o governo quando prometeu baixar o preço do pãozinho a partir da pesagem.
Telefone e pãozinho não estão deixando sobrar nem para o passe escolar! (Atenção Translitoral: mais uma ameaçando abandonar a sustentação do monopólio.)

A verdade aprendida e sentida na pele está clara: sim, eles mentem, e pior, querem que você acredite que foi e será sempre assim, desta forma você facilita as coisas para eles.
Eles soltam brados demagógicos de que a economia está crescendo, mas sabem que ao final você se sentirá duro, deprimido e cansado de tanta roubalheira e dirá: é...o Brasil não tem jeito mesmo.


sábado, 14 de julho de 2007

OH! Quem sabe a verdade neste mundo?


Lute contra o império do medo
Cedo ou tarde eles tentarão te convencer que isso é errado.
Mas, tenho certeza...
Nós estamos certos. (Angels and Demons, Angra).

Esta semana fui à casa de um grande amigo para pegar emprestada uma mídia com SIMPLESMENTE 94 músicas do Yes (maior expoente do rock progressivo), e fiquei perplexa com sua visão religiosa.

Falando do meu sincretismo religioso e do meu fascínio por bandas que misturam as mais diversas religiões, filosofias e culturas, ele me “cortou”. Disse que ele já conhecia a Verdade, e então, para que adorar outros deuses?

Detalhe sinistro: Verdade esta que só ele e os membros de sua Igreja conhecem.

Nesta hora, pude ouvir o grito estridente de Edu: OH! Who knows the truth in this world? (Wishing Well, Angra).

Nada tem a ver com adorar querer saber, conhecer, aprender outras culturas e religiões. Gosto de músicas com influências do candomblé ao erudito, sem precisar acender velas para orixás, nem para nenhum santo.

Admiro qualquer manifestação de fé, seja similar ou oposta a minha.

A fé é importante, não os dogmas.
São pelos dogmas que os homens matam.
São pelos dogmas que guerras começam.
As religiões exigem que você aceite a sua palavra (dogmas) para existirem como instituições de poder.

Curtir o que te envolve ou

curtir aquilo que a religião lhe impôs como verdade?
A solução pode ser apelar sempre para seu sentimento interior.

Talvez, esta seja a única parte de você que nunca mente.

O que sinto em relação a tal música?
É verdadeiro? Representa o que eu realmente sinto?...
Amigos, não sejamos uns “Caçadores de Sombras”.


Correndo cego contra a fé
Correndo cego outra vez
Igrejas caem como castelos na areia
Termina a Guerra Santa.
Jesus foi um homem

Com um coração, com uma mente
Com um corpo, com uma alma
Tão divino quanto você.

Deus não tem mente, nem coração
Não tem corpo, nem alma
E não é semelhante à você.
Não!
Como se perseguisse o vento... (O Caçador de Sombras, Angra).



Running bling against the faith
Running blind again
Church is falling like castles on the sand
Ends the Holy War
Jesus was a man

With a heart, with a mind
With a body, with a soul
So divine as your own

God has no mind, has no heart
Has no body, has no soul and no resemblance of you.

No!
Like chasing the wind… (Shadow Hunter, Angra)

segunda-feira, 9 de julho de 2007

FlatLand - Uma história underground.

"Life experience
Break your shell reach the light!
Mind and soul
Find your path to the skies"... (Sprouts of Time, Angra)

"Experiência de vida
Quebre sua casca, alcance a luz!
Mente e alma
Encontre seu caminho para os céus."(Brotos do Tempo, Angra)

Durante uma reflexão sobre este trecho da música, percebi que a casca a que Rafael Bittencourt (compositor e guitarra) se refere é "O Universo numa casca de Noz" de Stephen Hawking.
Pesquisando sobre este livro, acabei encontrando outro, não menos genial. A pesquisa me levou até : FlatLand (PlanoLândia) de Edwin Abbott. Escrito no século XIX, mas que só em 2002 teve sua tradução para o português. É uma história científico-satírica que muitos não conhecem e que ressurge agora do underground.

"Era uma vez um mundo bidimensional que possuía largura e comprimento; ali não existia altura. Era como uma folha de papel. Todos em Terra Plana moviam-se livremente, como as sombras se movem sobre a Terra, totalmente inconscientes da dimensão da altura. O personagem principal da Terra Plana (Flatland) era o Quadrado.
O velho Quadrado explicava a seu neto, o Hexágono, algumas noções de geometria. (Na Terra Plana, cada geração seguinte da linhagem masculina, possuía um lado a mais que seu respectivo pai, até atingir tantos lados que se tornavam indistintos do círculo, a ordem sacerdotal. Mas, é claro, havia uma exceção, os inferiores triângulos que sempre serão triângulos). À medida que o Quadrado procurava explicar ao neto como achar a área de um quadrado, através do quadrado da medida de um de seus lados, o neto perguntou-lhe o que poderia acontecer na geometria se alguém elevasse ao cubo esta mesma medida. O Quadrado explicou, pacientemente, que não existia tal coisa de “elevado ao cubo” na geometria. O neto, confuso, continuou insistindo, até que o Quadrado, zangado, mandou para a cama, advertindo-o de que se ele fosse mais sensato e falasse menos besteira, se sairia melhor em geometria. Naquela noite, sentado e lendo o jornal, o Quadrado continuou resmungando para si mesmo: “não existe este negócio de elevado ao cubo na geometria…” De repente, ele ouviu uma voz às suas costas, dizendo: “Sim, existe!” Olhou assustado para os lados e viu uma Esfera brilhante na sala. A Esfera era uma visitante da Terra Espacial (EspaçoLândia), um mundo em que havia três dimensões como nós conhecemos aqui na Terra. E a Esfera tentou sem êxito explicar ao Quadrado o que era a Terra Espacial, quando resolveu criar para o Quadrado algo que aqui chamamos de experiência transcendental; isto é, ela o transportou para a Terra Espacial. O Quadrado abriu os olhos, olhou ao redor e disse: “Isso é uma loucura… ou então é o próprio inferno!” E a Esfera respondeu: “Não, é nenhum dos dois… Isto é o Conhecimento… Abra os olhos e olhe ao seu redor”. Assim o Quadrado fez, e excitado contudo o que via começou a falar e questionar a Esfera sobre a possibilidade da existência de mundos com quatro ou até cinco dimensões. A esfera respondeu, zangada: “Não existe tal absurdo!” E, aborrecida, mandou-o rapidamente de volta à Terra Plana. O Quadrado, desde então, rodou pela Terra Plana, pregando a visão mística de um mundo de três dimensões. Desacreditado, foi confinado numa instituição mental, onde, uma vez por ano, era visitado por um Círculo da classe dos sacerdotes, que o entrevistava e avaliava como ele estava indo. E todas as vezes ele insistia em tentar explicar ao Círculo a dimensão da Terra Espacial, e todas as vezes o Círculo, desanimado, balançava a cabeça e o deixava trancafiado por mais um ano".

Cientistas renomados como Hawking afirmam a possibilidade da existência de 10 a 11 dimensões. Nós (nossa limitada mente humana) só podemos conceber 3. Assim, representamos o "Círculo", outras vezes, bancamos o "Quadrado". Esta é uma sátira de nós mesmos. Da incapacidade humana de entender e explicar sua própria origem. E pior: da resistência ao conhecimento.
Se quisermos entender o Universo, temos que abrir nossas mentes, libertar nossas almas e perguntar com o destemor das crianças:
"Com o que se parece um buraco negro? Qual é a menor porção de matéria? Por que nos lembramos do passado e não do futuro? Como se explica, se houve um caos primordial, que haja ordem agora, pelo menos aparentemente? E por que existe um universo?"(Carl Sagan).


Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito... (Shakespeare, Hamlet, Ato 2, cena2).

quinta-feira, 5 de julho de 2007

De férias com os titios do Angra.




“Em mim, a sabedoria e a tolice se encontram. E quando a sabedoria e a tolice se encontram há uma transcendência”. (Osho).

Guerra no Complexo do Alemão trazendo um pouco do épico ao nosso cotidiano. Música de fundo: Spread your Fire. Câmeras enquadram um corpo ensangüentado, ao lado, moradores abandonam o morro. Balas cruzam o ar. Nada escapa aos olhos do cameraman. Guerra ou êxtase?

Finalmente a mídia esqueceu a paranóia terrorista.
Aliás, onde andarão os fundamentalistas? Dando um tempo? Hum... tempos de suspense.
No som, Falaschi canta a saga de um cavaleiro das Cruzadas.
Ontem, católicos queimavam templos, hoje, islâmicos caçam infiéis. O século XI é agora! De fundo:
Temple of Hate.

Na TV, uma reportagem do “garoto testemunha do assassinato dos pais”. Em seus olhos paira uma sombra do sentido trágico da vida. Bem baixinho: Winds of Destination.

Corta imagem para: “a volta por cima da família depois da perda do menino Ives”.
Alguns poucos minutos de esperança. Um exemplo de amor em tempos de cólera. Toca:
Late Redemption.
Milton Nascimento faz dueto com Edu: “Cante uma canção desconhecida. Plante mais lembranças na sua vida. Nada além do amor é o que parece. Toda a minha dor na minha prece”.

Enxugo os olhos marejados para ver melhor o que surgiu na tela agora.
A apresentadora do Fantástico sorri e dá uma notícia ruim: “ondas de 30 metros varrem a costa brasileira a 350 km/hora”.
Naufragam edifícios, teatros, centros comunitários, close de um paraíba morrendo afogado. Corta para o céu azul:
Abrem-se os buracos da camada de ozônio. De lá saem os primeiros anjos do apocalipse. Edu Falaschi canta:
"Angels back to live! Arise!"


Deixo o niilismo de sua voz impregnar meus ouvidos: “God’s abandoned this world!”

A música ondulante do candomblé me acalma. Posso sentir Carolina aqui.
Enquanto a água invade, caboclos cabeludos fazem riffs de guitarras e cantam, em coro, com vozes agudas:
“Salve, Salve Iemanjá.
Salve Janaína.
E tudo o que se fez n’água.
Jogam flores para o mar,
Deus, salve a Rainha.
E o meu passo nessa esfera...
Um caboclo de orixás
Logo deixa a Terra
Vai de encontro à sua sina
Onde o céu encontra o mar
Achará seu porto
E é assim que isso termina”... (
Carolina IV)


Aos titios do Angra, toda a minha gratidão: pelos shows que são sempre impecáveis e, principalmente, pela sensação de se estar muito bem acompanhada quando se está apenas só, ouvindo música.


terça-feira, 26 de junho de 2007

Perversão poética

Chegou à porta.
Um frio glacial me percorre a espinha. Sim, é ela.

Vestido vermelho, superdecotado, como nas cenas mais clichês do cinema. O corpo tão à mostra, tão explícito erotismo. Ela, que já foi revolucionária, agora quer ser apenas coisa.

Já havia me contado uma vez - recordo enquanto finjo escrever - sua inveja das putas. “Invejo as putas porque elas são objetos. Coisas, objetos não têm sofrimento.”

Abro a gaveta para procurar um pente e encontro o comprimido para dor de cabeça. Engulo, assim, a seco mesmo. Mãos trêmulas, boca sem saliva. Ora, por que o nervosismo?

O que ela realmente invejava nas putas era o seu lado mercadoria, a facilidade de se oferecer, o impudor, o orgasmo fácil, o rápido coito e a ausência de culpa.

Veio buscar o suéter esquecido no armário há meses. Entrou sem nada dizer. Me senti observado. Notou minhas resenhas no lixo. Seria sádica? Teria vindo até ali só para rir da minha decadência? Da minha impotência criativa?

Da porta até o armário, caminhou mostrando as curvas. Mexeu o cabelo que esconde um inconsciente cheio de problemas. Imediatamente, me veio à mente a frase: “o explícito nega a transgressão.” Ela, que quis tanto a liberdade, a banalizou. Revelou tudo e estragou a aura mística do pecado. Ela é um tesão que me brocha.

Abro um sorriso verdadeiramente sádico. A idéia finalmente flui. Me delicio com perversões poéticas. Escrevo como há muito não escrevia. Com o que me divirto? Riu do quanto um pé na bunda me fez andar para frente.


domingo, 24 de junho de 2007

Simplicidade

Hoje está sendo um dia estranho. Vazio.

Dia preguiçoso, irritante... Dia que parece pedir para nós que façamos algo antes que o tédio e o sono vençam.

Em dias assim, só me resta render aos encantos de uma voz céltica que me acompanha quase sempre. Loreena Mckennitt.


Uma paz confortante me invade. Volto a acreditar que existem pessoas especiais e que encaram o mundo de uma forma muito diferente. Ainda vivem as grandes sacerdotisas. Loreena é uma delas. Através de sua voz, suas letras, e do pequeno diário de viagem que coloca em cada encarte de seus discos, consegue fazer com que eu desperte a minha também.

Estou lendo agora o encarte de "The book of secrets", em que ela diz:


"Ao longo de todos os anos durante os quais meditei sobre as características distintas dos Celtas, comecei a interrogar-me se os seus lendários costumes nômades nasceram de uma necessidade interior. De uma resposta involuntária ao invés de pragmática, de uma inquietude que teve as suas origens em uma curiosidade insaciável.

Penso que foi a minha crescente consciência da minha vontade de vaguear e curiosidade que me alertaram para a verdadeira sensação de ligação que sentia em relação à linhagem Celta, como parte daquela extensão do Novo Mundo de uma pessoa que vagueia incrivelmente longe...

...A minha esperança é de que este trabalho possa estimular a curiosidade do mesmo modo que os melhores livros de viagens. As melhores recordações de todas as viagens, sejam elas imaginárias ou reais, são aquelas que nos recordam que as vidas das pessoas são fortalecidas pela família e amigos, pelas nossas tentativas de criar a vida de alguém como se cria uma obra de arte e os nossos esforços para conciliar as nossas necessidades materiais com a importância das nossas relações com os outros".

sábado, 16 de junho de 2007

Confusão na CPI do rei-do-gado

Depois de dar um bom trago, disse ao garçom:
- Um copo bem carregado da purinha, por favor.
Queríamos estar “bem ligados” naquela reunião de arrocha ao senador rei-do-gado. Imagine só! Quando teríamos novamente uma chance dessas? Uma CPI para investigar o Presidente do Senado aberta aos estudantes de Comunicação Social.

Eufóricos, trêmulos, caminhamos todos até a sala da Comissão Parlamentar. Muitos cabos, câmeras e micro câmeras, celulares ligados, bloco de notas, cotoveladas para defender um bom lugar na platéia.
Entramos. O espetáculo já tinha começado.

Renan Calheiros se defendia. Trinta minutos de muita redundância até que me incomodou profundamente aquela cara de “roubei sim e tudo-bem-vai-fazer o quê?”, levantei e:
- Este país é uma bosta! – disse triunfante.

Para minha surpresa, um estudante de jornalismo, boçal como eu, se levantou solidário:
- Senhores, me parece que já vi esta cena antes. É CPI do Orçamento, do Narcotráfico, dos Correios, dos Bingos e Mensalão, do Judiciário, do apagão Aéreo... Ha ha ha... No Brasil, nada mais dejá vu que a corrupção!

Um, depois outro, e mais um. Aos poucos, vários estudantes foram se levantando e cada um tecendo suas críticas à política nacional. Foi realmente uma cena ímpar na História recente do nosso país. Argumentos dignos de palestras e tão convincentes que deixaram os próprios políticos tensos e suados. Havia talento, lirismo!
Mas algo descompassou e a emoção transbordando foi afogando todo o discurso numa monstruosa gritaria. Quando um congressista gritou a plenos pulmões:
- A democracia está sendo desmoralizada! Ou ficam quietos ou os militares terão de entrar.
Aquilo irritou ainda mais os estudantes e a confusão se instalou. Empurrões, safanões, assim à brasileira, fomos descendo as escadas da Comissão.

- E foi assim que tudo aconteceu, Seu Policial.
- Ok, tá liberada, mas se vacilar de novo...

sábado, 9 de junho de 2007

Eles não querem largar o osso.

No final deste ano será adotado o modelo japonês de TV digital. O que significa uma mudança técnica e não política. Depois de nos reduzir a rebanho e ignorar as reivindicações aos interesses públicos, o Ministro das Comunicações bateu seu martelo em favor dos empresários de radiodifusão.

Os “velhas mídias”, ou mega-concessionários que detém as únicas 5 redes nacionais de televisão, estão cegos e esclerosados se pensam que podem impedir a descentralização de poder e o compartilhamento de informação.

Cegos porque parecem não ver as transformações correntes na sociedade: a multiplicação “quase milagrosa” dos celulares, a possibilidade de interatividade no sentido de construção de conteúdos, a crise nas instituições (família, escola, hospital etc.). Esta última é a que mais temem, pois a crise afeta também a maneira como ainda se produz comunicação no Brasil. De forma unilateral e tendenciosa.

Esclerosados quando pensam que podem conter o avassalador “furacão da transição”, que descentraliza o poder de informação, espalhando-o por um número infinito de internautas que aos poucos se rebelam, criando sua própria mídia.

Mas o que se esconde debaixo dos argumentos que defendem a manutenção do atual sistema?

Hum... Creio que, durante esta averiguação, sentiremos um cheirinho de café. Lembram das oligarquias cafeeiras?
Os “velhas mídias”, assim como os oligarcas cafeeiros, não querem “largar o osso” pretendem perpetuar-se no poder.
Para diminuir essa manipulação, só o esclarecimento.
Na internet tem-se a chance de escrever e divulgar para sensibilizar a questão, mobilizar e organizar-se através das comunidades, enfim, as ferramentas estão aí, cabe a nós a responsabilidade de pensá-las. Mas, é preciso pressa, pois o controle político, com seus olhos famintos, já vem fitando há algum tempo a liberdade da rede.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Quem você escolhe: o PHT ou PHE?

Alunos, a realidade é forte: “dormimos em berço esplêndido”.
O que vem acontecendo conosco, estudantes?

A Universidade deveria ser um espaço de resistência, o “templo” das convergências e discórdias, dos questionamentos, do pensar, do filosofar, das loucuras, criatividade, ousadia, ideologias, e... bobagens, por que não?

Vivemos um transe hipnótico à espera de um Morpheus que nos faça a pergunta: “pílula vermelha ou pílula azul”? A terrível realidade ou a doce ilusão?
Pense: você realmente está pronto, maduro o suficiente para despertar desta "sessão de hipnose"?

No Brasil, há dois tipos de professores. O primeiro é o PHT (professor-hipnotizador tradicional), o segundo, PHE (professor-hipnotizador ericksoniano).
O PHT é como o José Serra, preocupa-se com a tabuada e prega o “MEMOREX”. É aquele hipnotizador que leva o aluno em transe para onde ele quer. Dá ordens, conduz a aula-hipnose segundo seus próprios critérios, consequentemente, desrespeita a autonomia do aluno.
Já o PHE observa o que está acontecendo com o aluno durante o transe do ensino, “cuida” dele até que chegue aonde quer chegar, fornece as ferramentas necessárias para que ele mesmo possa se desbloquear e dissolver aquilo que o limita.


Sendo assim, o transe pode ser mais significativo do que se pensa. Até porque, ele nada tem a ver com o relaxamento, pelo contrário. No transe o movimento cerebral é intenso. No relaxamento há uma diminuição da atividade dos neurônios.
Mas se no transe os neurônios trabalham mais, por que continuamos “babando” em aula?


As dificuldades de estudantes e professores são reflexos da fragilidade do sistema arcaico de educação. Momentos de transição como estes, sempre exigem de nós uma mudança de paradigma, um novo olhar, novas propostas... Debatedores: a hora é agora!


quarta-feira, 23 de maio de 2007

A vida é um CD-ROM - Seja a Revolução que espera ver no mundo.

- Quando agirá de acordo com o que já aprendeu?

- Não foi por má intenção, Mestre. É que ainda não entendi a metáfora. Sei que não há contradição entre tecnologia e progresso espiritual. Carbono e silício convergem para um único ponto: sua relação com o Universo. Porém, o que quer dizer “A vida é um CD- ROM?”

- É engraçado: você explora magistralmente teorias complexas, e não compreende a simplicidade e magnitude da vida!

Naquele dia o Mestre me explicou o que há milênios no Oriente se sabe: a “Tecnologia do Universo”. Ganhar, perder ou empatar está em nossas mãos. Não há um “Grande Irmão” controlando nossas vidas.

- Quando jogamos videogame o computador reage a cada movimento que fazemos com o mouse, porque cada movimento já foi colocado no disco. A vida é como esse CD-ROM. Todos os finais possíveis já existem, ou seja, aquilo que se experimenta depende das escolhas que se faz.

- Então, quando a vida nos diz “GAME OVER” – um enfático “não” – sempre é possível recomeçar o jogo e escolher uma nova versão para o final?

- Sim. Por exemplo, existem pessoas que escolheram a versão de que o mundo definhará até a morte devido aos gases poluentes. Outras escolheram preservar o que ainda não foi destruído. Alguns grupos escolhem dedicar-se a pessoas doentes, outros a emitir energias positivas para a Terra...

- Me sinto mal, Mestre. Tenho a sensação de que ainda não escolhi nenhuma versão.

- Você escolheu a versão em que faz as perguntas e o Universo responde. Mas, lembre-se: o importante é trabalhar juntos seus pensamentos, palavras e ações. Seja a Revolução que espera ver no mundo. Concentre-se nisso e será isso que obterá.

sábado, 19 de maio de 2007

Bebo Crystal e escuto Metal!

Nesta postagem nosso objeto de análise será o “heavy metal” (para desespero do Francisco Prado, 5ª Etapa).

Vou começar analisando uma das “pérolas” que os leitores escrevem para revistas como a Rock Brigade. Vejamos:
“gostaria de deixar bem claro que sou totalmente contra garotas no meio underground.todas são
falsas, posers e não entendem nada do verdadeiro som, o heavy metal. Em vez de escutar o som da
banda, ficam pensando no tamanho da pica dos integrantes. Garotas só servem para chupar nossas
rolas e fazer missin miojo” (H.W.C.F, Poços de Caldas/MG, Rock Brigade nº 161 Dezembro/99, pg
47)

Isto é o que eu chamaria de rótulo. Certos headbangers rotulam todas mulheres de “groupies”(garotas que iam aos shows só para transar com os roqueiros). É deprimente que ainda existam homens que pensam assim. Infelizmente, é possível encontrar, neste meio, inúmeras frases machistas como esta.

Bem, gostaria de deixar claro que vou aos shows para curtir o som e rever amigos e não para caçar cabeludos. Embora nada me impeça de me interessar por algum e vice e versa.

Para este tipo de metaleiro pior do que ser mulher é ser mulher e gostar de estilos como progmetal e metal melódico (os meus preferidos). Por serem muito introspectivos, estes estilos são vistos por eles como (desculpem o termo) música para “cuzões”.

Porém, não vou me deter aos preconceitos existentes neste meio. O preconceito está em todo lugar e com a música não é diferente.

Vou ressaltar aqui as partes mais curiosas desta manifestação cultural tão interessante que é o heavy metal. Vamos lá:

A estética do headbanger é um texto a ser lido. Por exemplo, quanto maior os cabelos, maior é o tempo de lealdade ao movimento.

Jaquetas de couro, camisas pretas carregam o emblema das bandas favoritas. As mais valorizadas são as camisetas vendidas nas turnês. Isso porque são uma prova de que o cara esteve lá e curtiu a banda ao vivo.

O cabelo longo também serve para acompanhar o ritmo (para frente, para trás e movimentos circulares com a cabeça).
A expressão facial é um misto de prazer e raiva.

Toda vez que curto um som me sinto no Paleolítico. Período em que os homens desenhavam na parede das cavernas os bisões que teriam de enfrentar. Numa mistura de magia e religiosidade, dançavam com o intuito de tomar coragem para sair à caça ao bisão.
Para mim, curtir metal é isso! Uma mistura de magia e religiosidade.
Um ritual que serve como um escape da rotina estressante desta eterna caça ao vil metal (aqui no sentido de grana mesmo).

A figura do headbanger é similar à figura do bárbaro (aquele que veio destruir a civilização). Para reproduzir esta “destruição da civilização pela força” é preciso produzir um som cada vez mais pesado, distorcido, guitarras superpotentes, solos longuíssimos.

Ao contrário dos punks, que enfatizam a simplicidade no tocar, o metal valoriza a habilidade e o virtuosismo (Adoro o prog por isso!!!).
Sou fã-testemunha da rotina intensa de estudos, um esforço matemático do “Mindstorm”(banda de progmetal daqui do Guarujá) em fazer um som com qualidade técnica.

Dream Theater, Symphony X, Circus Maximus são exemplos do estilo progmetal e tiveram suas influências em bandas mais antigas como: Rush, Genesis, Uriah Heep, Led, Pink Floyd...
Para dar um exemplo mais recente de um bom trabalho de progmetal indico a música “Glory of the Empire”(da banda norueguesa Circus Maximus).

Na minha opinião, ela é um poema, uma sinfonia, uma peça teatral. Em seus 10 minutos e 27 segundos relata o apogeu e declínio do Império Romano, denunciando a escravidão dos reféns da legião romana. Tudo numa sincronia perfeita entre letra e som conforme a intensidade do drama.

Quer viajar? Ouça.

Ah! A foto acima foi o pessoal do Mindstorm que tirou. Disseram que era raridade me ver bebendo, precisavam registrar! rs...

domingo, 29 de abril de 2007

Antes de ir para a fogueira

Antes de ir para a fogueira, eu renego três vezes esse Deus severo e autoritário que impõe sua Verdade através do medo.
Um mito – que não me serve – de um Deus colérico e intolerante que foi criado há séculos atrás pelo próprio homem.
Esse Deus que ainda é adorado por muitos fez do prazer um tabu e do sexo algo sujo que serve apenas para a reprodução.

Antes de ir para a fogueira eu digo que nem sempre foi assim:
Na pré-história o homem considerava a mulher envolta numa aura mística porque, além de sangrar todo mês, ela também conhecia o “segredo” de ter bebês. Foi principalmente por esses motivos que a mulher foi a primeira divindade adorada.

Antes de ir para a fogueira eu assumo que o desenho acima fui eu mesma quem fez. Ele retrata o período matriarcal. Bons tempos em que o sexo estava totalmente ligado à atitude religiosa.
Celebrando, agradecendo ou suplicando, homem e mulher ofereciam o ato sexual à deusa. Era um ato honroso e respeitoso.
Eram tempos de uma Deusa divertida que sem medos experimentava o amor ilimitado (veja o sorriso safado nos lábios delas).
Os homens eram como servos. Faziam pequenos trabalhos para serem valorizados e obterem sexo. Não tinham o poder em suas mãos. Até que alguns se rebelaram.

Antes de ir para a fogueira eu digo que os rebelados eram certamente os mais magrelos, os mais feios e todos os broxas.

Antes de ir para a fogueira eu devidamente acuso esses frustrados de terem criado o mito do mau filho que depois veio a se chamar Satanás. Eles disseminaram dúvidas sobre o poder das mulheres, diziam: “Será que esse modo de governar feminino realmente está certo?”
E continuaram: “A Deusa das Deusas um dia gerou um filho que era mau. Ele lutou contra a mãe por seu próprio trono. Expulso, voltou aparecer agora disfarçado.”
Diziam os broxas: “Como sabemos que a Deusa que adoramos é a própria Deusa? Poderia ser o mau filho disfarçado a nos enganar. E quem poderá combatê-lo?”
Magrelos e feios: “Certamente não a Deusa, pois ela é sábia demais e tem compaixão, mas não força bruta. Vamos criar o Deus protetor da Deusa!”

Antes de ir para a fogueira eu digo que foi assim que o Deus masculino foi criado.
Surgiram outros mitos de outros deuses, entre eles o Deus ciumento: “É melhor amar a mim e a ninguém mais!!!!”

Antes de ir para a fogueira eu digo que infelizmente toda a idéia de divindade foi deturpada.

Antes de ir para a fogueira eu falo mais do desenho que fiz acima. Ele demonstra o que a Igreja fez com as mulheres e o sexo. A liberdade e a celebração desta energia vital foram transformadas no que vocês, meus inquisidores, chamaram de pecado.
Deturparam o deus pã (deus da agricultura, natureza e dos instintos sexuais) e nem ao menos foram criativos nisto, roubaram-lhe os chifres, o corpo metade homem e metade animal, o nariz de tomada etc. Plagiaram a figura de deus pã e rebatizaram-na de Satanás, diabo, boizebú...

Antes de ir para a fogueira digo com tristeza na alma que em quase todas as religiões Deus em vez de ser a fonte de todo amor, tornou-se a fonte de todo o medo.

Antes de ir para a fogueira pergunto aos senhores meus Inquisidores: “Como pode o sexo não ser sagrado?”

Antes de ir para a fogueira peço a meus Inquisidores que, quando se deitarem com suas parceiras, misturem o que chamam de sagrado e o profano e verão que não há diferença entre ambos.
Não existe separação no mundo de Deus.

Antes de ir para a fogueira lhes digo que o prazer tem dois aspectos. Um faz vocês esquecerem de quem realmente são, e o outro faz vocês lembrarem de quem realmente são. Um é o aspecto físico do sexo, o outro é seu aspecto espiritual.

Antes de ir para a fogueira lhes digo também que através destes dois aspectos do prazer perceberão que os corpos de quem amam tornar-se-ão o seu. E suas almas não mais se imaginarão separadas de coisa alguma.
Antes de ir para a fogueira eu digo que esta é uma das mais fascinantes e prazerosas experiências da Unicidade, do Todo, de Deus.







domingo, 22 de abril de 2007

A Pedra


Era uma vez uma Pedra, cheia de inúmeros átomos, prótons, nêutrons e partículas subatômicas de matéria. Essas partículas sempre se movimentaram rapidamente, cada uma delas indo "daqui para lá" e levando "tempo" para fazer isso, mas fazendo-o tão rápido que a própria Pedra não parecia estar se movendo. Apenas era uma pedra. Ficava absorvendo a água da chuva, secando ao sol e sem se mover.


"O que é isso dentro de mim, esse movimento?", perguntou-se.

"É você", respondeu uma Voz Distante.

"Eu?", disse a Pedra. "Isso é impossível. Eu não estou me movendo. Qualquer um pode ver isso."

"Sim, de longe", concordou a Voz. "Daqui você parece sólida, mas imóvel. Mas quando eu me aproximo - quando observo atentamente o que está acontecendo - vejo que tudo Que Você É está se movendo. Está se movendo a uma velocidade incrível através do tempo e do espaço em um padrão particular que a cria como o que é chamado de 'Pedra'. E portanto, vocé é mágica! Está ao mesmo tempo se movendo e imóvel."


"Mas, qual é a ilusão? A unicidade, a imobilidade da Pedra, ou a separação e o movimento de Suas partes?", perguntou a Pedra.

Ao que a Voz respondeu: "Qual é a ilusão? A unicidade, a imobilidade de Deus? Ou a separação e o movimento de Suas partes?"


Isso é a Cosmologia.

A vida é uma série de pequenos movimentos rápidos. Esses movimentos não afetam de forma alguma a imobilidade e Existência de Tudo Que Existe. Contudo, como ocorre com os átomos da pedra, é o movimento que cria a imobilidade, bem diante de seus olhos.

Da perspectiva limitada da qual vocês vêem Tudo Que Existe, vêem-se como separados e afastados, não como um único ser imóvel, mas muitos, muitos seres constantemente em movimento.

Ambas as observações são certas. Ambas as realidades são "reais".


(Texto extraído do livro: Conversando com Deus III, Neale Donald Walsch)

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Olá, visitante!

Este blog, como todos os outros, tem o objetivo principal de ser subjetivo - embora contenha textos com base em assuntos aprendidos em aula.
É um blog também sobre artes, portanto, esqueça o compromisso com o racional quando for postar seus comentários.
Poste com o coração, não com a cabeça.
"Como assim?"
Deixe-se levar pela imaginação, deixe-se estimular pelas imagens e pelo conteúdo dos textos, mas não se prendam a eles.
Reflita, mas não muito. Se refletir demais, acabará bloqueando sua mente (sua percepção).
Como estudantes de comunicação, aprendemos o alfabetismo visual. Proponho que este seja um lugar para pô-lo em prática.
Projete-se na imagem. Ela te lembra algo? Positivo, negativo? O conteúdo do texto te remeteu a uma outra história? Há algo que queira compartilhar?
Poste!!!
Não tenha medo de dizer bobagens. Não leve este blog tão a sério.
Deixe fluir e poste.
Anda povo, interatividade!!!
Quanto mais escrever o que vê, mas a experiência ficará fácil. Em questão de tempo, fará comentários e textos incríveis.
Não há outra maneira: tem que exercitar.
Valeu, galera!

domingo, 15 de abril de 2007

Meninos, eu não vi isto em sala de aula!

Fiz este desenho ouvindo "The Shaman"da banda Angra, pertencente ao maravilhoso álbum Holy Land (1996) que trata do descobrimento do Brasil.

A música The Shaman é uma referência clara à obra Juca Pirama, de Gonçalves Dias. (letra: http://angra.letras.terra.com.br/letras/76623/). Além da qualidade instrumental, a letra contém o conhecido: "Meninos, eu vi!" (em inglês, claro!)

Se aprendemos Juca Pirama na escola, com certeza, não foi em sala de aula que ouvimos Angra. Por quê?

Juca Pirama não bebia ayahuasca (http://angra.letras.terra.com.br/letras/76623/), pelo menos, não na obra romântica de Gonçalves Dias. Se o guerreiro tupi bebesse ayahuasca subverteria o ideal do "bom-selvagem". Quebraria paradigmas.

Embora a letra da canção contenha traços desse idealismo romântico indianista, não podemos nos esquecer de que o gênero musical é heavy metal. E só por isso, subversivo.
É através do som, do tempo da música que, para mim, se constitui a mensagem. Foi através da música que soube exatamente o que iria desenhar. Sinestesia??? (http://pt.wikipedia.org/wiki/Sinestesia)

O uso de símbolos, imagens, metáforas, sinestesias, recursos sonoros e cromáticos, tudo usado para exprimir o mundo interior, intuitivo. Isto é Simbolismo. Também aprendemos na escola. Alguém se lembra? (http://www.geocities.com/alcalina.geo/39litera/simbol.htm)

O timbira que assiste a coragem do tupi (Juca Pirama) é, na música do Angra, um xamã. Um homem que tem os sentidos expandidos, processos mentais e emoções mais profundas. É aquele que, através de uma bebida, cura e também, abre o portal de outros reinos da existência.(http://pt.wikipedia.org/wiki/Xam%C3%A3)

A projeção é imediata: quem preferimos ser? O guerreiro "certinho" de Gonçalves? Ou o xamã urbano que possui a chave para abrir sua própria mente?

Em Antropologia, não estudamos o xamanismo. E no curso (como um todo) de Comunicação nada vimos sobre a hipótese séria de que o ser humano adquiriu a linguagem e a reflexão a partir da ingestão de cogumelos alucinógenos na pré-história. (http://mundocogumelo.wordpress.com/2006/11/01/entrevista-terence-mckenna/)

Mas,
por que os professores ( e outros educadores) não veêm que não queremos mais o bom-selvagem?
Por que não nos apresentam a arte subversiva na sua íntegra?
Por que não nos deixam escolher nossos heróis?

Vocês escondem todo o conhecimento que provoca êxtase!

Isso tudo porque escolheram que era melhor não tocar em assuntos dito polêmicos dentro das salas de aula.
Ora, onde os discutiremos então? Nas FEBEMs? Nas prisões? Ou nos botecos, entre um vômito e outro?

PS.: Relaxa, Salatiel! Vc tá fora dessa lista.

sábado, 7 de abril de 2007

A Semiótica do Amor

"Não contemplava mais uma esquisita combinação de flores; via agora, aquilo mesmo que Adão vira no dia de sua criação, o milagre do inteiro desabrochar da existência, em toda a sua nudez". (Aldous Huxley, As Portas da percepção)
O que Huxley descreve é sua experiência com mescalina. Mesmo assim é possível perceber como a experiência descrita lembra a sensação de se estar apaixonado. Quando estamos amando tudo parece ter mais cores, uma flor nunca é apenas uma flor, tudo é muito mais intenso. O olhar recupera uma parcela da inocente percepção da infância. O oposto também ocorre. Basta lembrarmos dos "fóras" que tomamos: de repente tudo ficou meio acinzentado, a existência perdeu sua importância, ficamos triste por um dado momento e tal...
A mescalina e o LSD anulam quase que completamente a preocupação com o tempo e o espaço. Esta despreocupação, muitas vezes, também sente quem está apaixonado.
O fato da garota no desenho estar deitada é a prova de sua despreocupação com o tempo e o espaço. Seu olhar reflexivo denota: só há a preocupação com a existência e o significado.
Mas, afinal, ela está apaixonada ou tá doidona de mescalina?
Olha, pelo insólito demônio da fonte, eu aposto na mescalina. E vocês?
A percepção se altera e aquilo que ela observa brilha com luz própria, luz interior - o puro ato de existir. O que ela nota é a existência pura e simples da pomba. A primeira apreensão sem julgamentos, sem reflexão. Exatamente o que Peirce chamou de Primeiridade.
Um momento depois, ela toma consciência da existência da pomba, e reage diante dela. É a Secundidade.
A reflexão leva a garota finalmente à compreensão (Terceiridade) de sua própria realidade. Um mundo de grande beleza se revela. É o estado de Beatitude que Huxley menciona em seu livro. A compreensão nos aproxima de Deus - veja os anjos atrás dela.
O ciclo se fechou e ela percebeu: o entendimento do mistério da vida (uma experiência quase mística), os átomos que deram origem a todo o universo e que também estão presentes naquela pomba.
Existência - Consciência - Beatitude. (Huxley)
Primeiridade - Secundidade - Terceiridade. (Peirce)
...
O homem tem banalizado tudo - inclusive o amor. Transformando-o em algo piegas. Porém, não vamos culpá-lo por isso. Se o ser humano banalizou o amor foi porque nunca o compreendeu em sua totalidade. Faltou-lhe treinar o olhar, praticar a semiótica.
Olhe a sua volta e responda:
Qual de todas as coisas que você vê não é composta por átomos?
Quais destes átomos não se unem por força de atração, energia?
E o que é o amor, senão, impulso, atração, vontade, força, energia?
O amor está em toda parte, mas nós não vemos isso.
Mas, a garota viu!
Ela viu na pomba toda a composição do universo, através de um processo de semiose infinita: um pensamento que puxa outro...uma coisa que puxa outra que puxa outra...

Bem, se você ainda acha que semiótica e amor não tem nada a ver e que duvida que tudo no universo está conectado, saiba o que a mecânica quântica descobriu: "não se pode ter um universo separado da mente".
Acorda, meu irmão! Tá tudo junto e misturado!!!

domingo, 1 de abril de 2007

A Cyberpunk romântica

No desenho, a garota está vestida (parte de cima da roupa) com vinil. Material sintético, extremamente brilhante, o vinil preto, além de estar associado ao erotismo, é também peça muito comum nos filmes de ficção científica. Ele sintetiza o pós-modernismo.
A saia que compõe seu vestido é tão volumosa quanto àquelas usadas pelas mulheres da Idade Média ou Idade das Trevas (como preferia Da Vinci). Ah, o chapéu é bizarro! Uma mistura gótica com rococó.
É claro que ninguém se veste assim. A imagem é uma paródia do nosso presente, uma mistura de ideais românticos e humanísticos e cibercultura. E vai muito além desta simples análise estética.
A postura da cyberpunk é de desprezo. O que ela despreza é a dominação pelo Windows e a vigilância eletrônica e não, o ciberespaço. Ela não é anti-tecnológica, mas é romântica, pois deseja o software livre para todos - talvez nunca consiga.
Se por um lado seus ideais são românticos, por outro, seu espírito é transgressor. Os cyberpunks não são teóricos, têm no hacking sua atitude principal. Estão em busca da apropriação social da tecnologia, sem utopias.
Ela encara diretamente quem a olha. Seu olhar desafiador diz: "ALô, TV Globo, com a rede nós ganhamos a alforria!"

Hum...será que tem alguma cyberpunk aí? Ou um cyberpunk?

O mito da caverna e o ciberespaço

Uma das sombrancelhas está levantada, como quando estamos diante de uma coisa nova, um questionamento inicial. A cabeça começa a se erguer enquanto o corpo continua encolhido e medroso, preso ao passado e à antigas interpretações. Mas, os olhos, mesmo desconfiados, denotam que um visionário foi despertado.
É assim que muitos se sentem - e eu me incluo nessa - diante das possibilidades da Web 2.0(detalhes: www.salatiel-laranjamecanica.blogspot.com).
A semelhança com a história de Platão, talvez não seja mera coincidência. Estávamos acorrentados, desde que nascemos, assistindo as imagens não projetadas na caverna, mas na tela da televisão. Não imaginávamos que uma outra realidade viesse tão rápido. Embora haja muita resistência, ela não pode mais ser evitada. A adaptação aos novos meios é questão de sobrevivência
Mesmo com o corpo encolido e com os pés acorrentados à cultura de massa e, mesmo ainda vivendo dentro de um país onde a maioria se satifaz em receber info-entretenimento sem ao menos questionar, é certo de que algo, dentro ou fora de nós, já mudou.
A televisão subestimou a inteligência de todos, mas a possibilidade de interatividade através da rede, fez com que o homem de Platão (simbólicamente, nós) quisesse romper as correntes e fugir à realidade da caverna para um espaço não limitado, o espaço cibernético ou ciberespaço.
Ciberdireitos, software livre, net-ativismo, hacklabs (laboratório de hackers)...Aliás, se alguém acha que hacker resume-se àquele indivíduo que pratica crimes virtuais, precisa urgentemente rever seus conceitos. (http://www.rizoma.net/interna.php?id=207&secao=espaco)
Os hacklabs têm como principal ideal lutar contra a informação pré-fabricada e as restrições impostas ao compartilhamento do conhecimento.
Estes temas e outros estarão sendo abordados neste blog. Para isso, espero contar com a ajuda de quem quiser expressar qualquer idéia, mensagem ou crítica.
Quebrem as correntes e sejam bem-vindos!

Uma alusão à "Mito da Caverna"

Uma alusão à "Mito da Caverna"