domingo, 29 de abril de 2007

Antes de ir para a fogueira

Antes de ir para a fogueira, eu renego três vezes esse Deus severo e autoritário que impõe sua Verdade através do medo.
Um mito – que não me serve – de um Deus colérico e intolerante que foi criado há séculos atrás pelo próprio homem.
Esse Deus que ainda é adorado por muitos fez do prazer um tabu e do sexo algo sujo que serve apenas para a reprodução.

Antes de ir para a fogueira eu digo que nem sempre foi assim:
Na pré-história o homem considerava a mulher envolta numa aura mística porque, além de sangrar todo mês, ela também conhecia o “segredo” de ter bebês. Foi principalmente por esses motivos que a mulher foi a primeira divindade adorada.

Antes de ir para a fogueira eu assumo que o desenho acima fui eu mesma quem fez. Ele retrata o período matriarcal. Bons tempos em que o sexo estava totalmente ligado à atitude religiosa.
Celebrando, agradecendo ou suplicando, homem e mulher ofereciam o ato sexual à deusa. Era um ato honroso e respeitoso.
Eram tempos de uma Deusa divertida que sem medos experimentava o amor ilimitado (veja o sorriso safado nos lábios delas).
Os homens eram como servos. Faziam pequenos trabalhos para serem valorizados e obterem sexo. Não tinham o poder em suas mãos. Até que alguns se rebelaram.

Antes de ir para a fogueira eu digo que os rebelados eram certamente os mais magrelos, os mais feios e todos os broxas.

Antes de ir para a fogueira eu devidamente acuso esses frustrados de terem criado o mito do mau filho que depois veio a se chamar Satanás. Eles disseminaram dúvidas sobre o poder das mulheres, diziam: “Será que esse modo de governar feminino realmente está certo?”
E continuaram: “A Deusa das Deusas um dia gerou um filho que era mau. Ele lutou contra a mãe por seu próprio trono. Expulso, voltou aparecer agora disfarçado.”
Diziam os broxas: “Como sabemos que a Deusa que adoramos é a própria Deusa? Poderia ser o mau filho disfarçado a nos enganar. E quem poderá combatê-lo?”
Magrelos e feios: “Certamente não a Deusa, pois ela é sábia demais e tem compaixão, mas não força bruta. Vamos criar o Deus protetor da Deusa!”

Antes de ir para a fogueira eu digo que foi assim que o Deus masculino foi criado.
Surgiram outros mitos de outros deuses, entre eles o Deus ciumento: “É melhor amar a mim e a ninguém mais!!!!”

Antes de ir para a fogueira eu digo que infelizmente toda a idéia de divindade foi deturpada.

Antes de ir para a fogueira eu falo mais do desenho que fiz acima. Ele demonstra o que a Igreja fez com as mulheres e o sexo. A liberdade e a celebração desta energia vital foram transformadas no que vocês, meus inquisidores, chamaram de pecado.
Deturparam o deus pã (deus da agricultura, natureza e dos instintos sexuais) e nem ao menos foram criativos nisto, roubaram-lhe os chifres, o corpo metade homem e metade animal, o nariz de tomada etc. Plagiaram a figura de deus pã e rebatizaram-na de Satanás, diabo, boizebú...

Antes de ir para a fogueira digo com tristeza na alma que em quase todas as religiões Deus em vez de ser a fonte de todo amor, tornou-se a fonte de todo o medo.

Antes de ir para a fogueira pergunto aos senhores meus Inquisidores: “Como pode o sexo não ser sagrado?”

Antes de ir para a fogueira peço a meus Inquisidores que, quando se deitarem com suas parceiras, misturem o que chamam de sagrado e o profano e verão que não há diferença entre ambos.
Não existe separação no mundo de Deus.

Antes de ir para a fogueira lhes digo que o prazer tem dois aspectos. Um faz vocês esquecerem de quem realmente são, e o outro faz vocês lembrarem de quem realmente são. Um é o aspecto físico do sexo, o outro é seu aspecto espiritual.

Antes de ir para a fogueira lhes digo também que através destes dois aspectos do prazer perceberão que os corpos de quem amam tornar-se-ão o seu. E suas almas não mais se imaginarão separadas de coisa alguma.
Antes de ir para a fogueira eu digo que esta é uma das mais fascinantes e prazerosas experiências da Unicidade, do Todo, de Deus.







domingo, 22 de abril de 2007

A Pedra


Era uma vez uma Pedra, cheia de inúmeros átomos, prótons, nêutrons e partículas subatômicas de matéria. Essas partículas sempre se movimentaram rapidamente, cada uma delas indo "daqui para lá" e levando "tempo" para fazer isso, mas fazendo-o tão rápido que a própria Pedra não parecia estar se movendo. Apenas era uma pedra. Ficava absorvendo a água da chuva, secando ao sol e sem se mover.


"O que é isso dentro de mim, esse movimento?", perguntou-se.

"É você", respondeu uma Voz Distante.

"Eu?", disse a Pedra. "Isso é impossível. Eu não estou me movendo. Qualquer um pode ver isso."

"Sim, de longe", concordou a Voz. "Daqui você parece sólida, mas imóvel. Mas quando eu me aproximo - quando observo atentamente o que está acontecendo - vejo que tudo Que Você É está se movendo. Está se movendo a uma velocidade incrível através do tempo e do espaço em um padrão particular que a cria como o que é chamado de 'Pedra'. E portanto, vocé é mágica! Está ao mesmo tempo se movendo e imóvel."


"Mas, qual é a ilusão? A unicidade, a imobilidade da Pedra, ou a separação e o movimento de Suas partes?", perguntou a Pedra.

Ao que a Voz respondeu: "Qual é a ilusão? A unicidade, a imobilidade de Deus? Ou a separação e o movimento de Suas partes?"


Isso é a Cosmologia.

A vida é uma série de pequenos movimentos rápidos. Esses movimentos não afetam de forma alguma a imobilidade e Existência de Tudo Que Existe. Contudo, como ocorre com os átomos da pedra, é o movimento que cria a imobilidade, bem diante de seus olhos.

Da perspectiva limitada da qual vocês vêem Tudo Que Existe, vêem-se como separados e afastados, não como um único ser imóvel, mas muitos, muitos seres constantemente em movimento.

Ambas as observações são certas. Ambas as realidades são "reais".


(Texto extraído do livro: Conversando com Deus III, Neale Donald Walsch)

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Olá, visitante!

Este blog, como todos os outros, tem o objetivo principal de ser subjetivo - embora contenha textos com base em assuntos aprendidos em aula.
É um blog também sobre artes, portanto, esqueça o compromisso com o racional quando for postar seus comentários.
Poste com o coração, não com a cabeça.
"Como assim?"
Deixe-se levar pela imaginação, deixe-se estimular pelas imagens e pelo conteúdo dos textos, mas não se prendam a eles.
Reflita, mas não muito. Se refletir demais, acabará bloqueando sua mente (sua percepção).
Como estudantes de comunicação, aprendemos o alfabetismo visual. Proponho que este seja um lugar para pô-lo em prática.
Projete-se na imagem. Ela te lembra algo? Positivo, negativo? O conteúdo do texto te remeteu a uma outra história? Há algo que queira compartilhar?
Poste!!!
Não tenha medo de dizer bobagens. Não leve este blog tão a sério.
Deixe fluir e poste.
Anda povo, interatividade!!!
Quanto mais escrever o que vê, mas a experiência ficará fácil. Em questão de tempo, fará comentários e textos incríveis.
Não há outra maneira: tem que exercitar.
Valeu, galera!

domingo, 15 de abril de 2007

Meninos, eu não vi isto em sala de aula!

Fiz este desenho ouvindo "The Shaman"da banda Angra, pertencente ao maravilhoso álbum Holy Land (1996) que trata do descobrimento do Brasil.

A música The Shaman é uma referência clara à obra Juca Pirama, de Gonçalves Dias. (letra: http://angra.letras.terra.com.br/letras/76623/). Além da qualidade instrumental, a letra contém o conhecido: "Meninos, eu vi!" (em inglês, claro!)

Se aprendemos Juca Pirama na escola, com certeza, não foi em sala de aula que ouvimos Angra. Por quê?

Juca Pirama não bebia ayahuasca (http://angra.letras.terra.com.br/letras/76623/), pelo menos, não na obra romântica de Gonçalves Dias. Se o guerreiro tupi bebesse ayahuasca subverteria o ideal do "bom-selvagem". Quebraria paradigmas.

Embora a letra da canção contenha traços desse idealismo romântico indianista, não podemos nos esquecer de que o gênero musical é heavy metal. E só por isso, subversivo.
É através do som, do tempo da música que, para mim, se constitui a mensagem. Foi através da música que soube exatamente o que iria desenhar. Sinestesia??? (http://pt.wikipedia.org/wiki/Sinestesia)

O uso de símbolos, imagens, metáforas, sinestesias, recursos sonoros e cromáticos, tudo usado para exprimir o mundo interior, intuitivo. Isto é Simbolismo. Também aprendemos na escola. Alguém se lembra? (http://www.geocities.com/alcalina.geo/39litera/simbol.htm)

O timbira que assiste a coragem do tupi (Juca Pirama) é, na música do Angra, um xamã. Um homem que tem os sentidos expandidos, processos mentais e emoções mais profundas. É aquele que, através de uma bebida, cura e também, abre o portal de outros reinos da existência.(http://pt.wikipedia.org/wiki/Xam%C3%A3)

A projeção é imediata: quem preferimos ser? O guerreiro "certinho" de Gonçalves? Ou o xamã urbano que possui a chave para abrir sua própria mente?

Em Antropologia, não estudamos o xamanismo. E no curso (como um todo) de Comunicação nada vimos sobre a hipótese séria de que o ser humano adquiriu a linguagem e a reflexão a partir da ingestão de cogumelos alucinógenos na pré-história. (http://mundocogumelo.wordpress.com/2006/11/01/entrevista-terence-mckenna/)

Mas,
por que os professores ( e outros educadores) não veêm que não queremos mais o bom-selvagem?
Por que não nos apresentam a arte subversiva na sua íntegra?
Por que não nos deixam escolher nossos heróis?

Vocês escondem todo o conhecimento que provoca êxtase!

Isso tudo porque escolheram que era melhor não tocar em assuntos dito polêmicos dentro das salas de aula.
Ora, onde os discutiremos então? Nas FEBEMs? Nas prisões? Ou nos botecos, entre um vômito e outro?

PS.: Relaxa, Salatiel! Vc tá fora dessa lista.

sábado, 7 de abril de 2007

A Semiótica do Amor

"Não contemplava mais uma esquisita combinação de flores; via agora, aquilo mesmo que Adão vira no dia de sua criação, o milagre do inteiro desabrochar da existência, em toda a sua nudez". (Aldous Huxley, As Portas da percepção)
O que Huxley descreve é sua experiência com mescalina. Mesmo assim é possível perceber como a experiência descrita lembra a sensação de se estar apaixonado. Quando estamos amando tudo parece ter mais cores, uma flor nunca é apenas uma flor, tudo é muito mais intenso. O olhar recupera uma parcela da inocente percepção da infância. O oposto também ocorre. Basta lembrarmos dos "fóras" que tomamos: de repente tudo ficou meio acinzentado, a existência perdeu sua importância, ficamos triste por um dado momento e tal...
A mescalina e o LSD anulam quase que completamente a preocupação com o tempo e o espaço. Esta despreocupação, muitas vezes, também sente quem está apaixonado.
O fato da garota no desenho estar deitada é a prova de sua despreocupação com o tempo e o espaço. Seu olhar reflexivo denota: só há a preocupação com a existência e o significado.
Mas, afinal, ela está apaixonada ou tá doidona de mescalina?
Olha, pelo insólito demônio da fonte, eu aposto na mescalina. E vocês?
A percepção se altera e aquilo que ela observa brilha com luz própria, luz interior - o puro ato de existir. O que ela nota é a existência pura e simples da pomba. A primeira apreensão sem julgamentos, sem reflexão. Exatamente o que Peirce chamou de Primeiridade.
Um momento depois, ela toma consciência da existência da pomba, e reage diante dela. É a Secundidade.
A reflexão leva a garota finalmente à compreensão (Terceiridade) de sua própria realidade. Um mundo de grande beleza se revela. É o estado de Beatitude que Huxley menciona em seu livro. A compreensão nos aproxima de Deus - veja os anjos atrás dela.
O ciclo se fechou e ela percebeu: o entendimento do mistério da vida (uma experiência quase mística), os átomos que deram origem a todo o universo e que também estão presentes naquela pomba.
Existência - Consciência - Beatitude. (Huxley)
Primeiridade - Secundidade - Terceiridade. (Peirce)
...
O homem tem banalizado tudo - inclusive o amor. Transformando-o em algo piegas. Porém, não vamos culpá-lo por isso. Se o ser humano banalizou o amor foi porque nunca o compreendeu em sua totalidade. Faltou-lhe treinar o olhar, praticar a semiótica.
Olhe a sua volta e responda:
Qual de todas as coisas que você vê não é composta por átomos?
Quais destes átomos não se unem por força de atração, energia?
E o que é o amor, senão, impulso, atração, vontade, força, energia?
O amor está em toda parte, mas nós não vemos isso.
Mas, a garota viu!
Ela viu na pomba toda a composição do universo, através de um processo de semiose infinita: um pensamento que puxa outro...uma coisa que puxa outra que puxa outra...

Bem, se você ainda acha que semiótica e amor não tem nada a ver e que duvida que tudo no universo está conectado, saiba o que a mecânica quântica descobriu: "não se pode ter um universo separado da mente".
Acorda, meu irmão! Tá tudo junto e misturado!!!

domingo, 1 de abril de 2007

A Cyberpunk romântica

No desenho, a garota está vestida (parte de cima da roupa) com vinil. Material sintético, extremamente brilhante, o vinil preto, além de estar associado ao erotismo, é também peça muito comum nos filmes de ficção científica. Ele sintetiza o pós-modernismo.
A saia que compõe seu vestido é tão volumosa quanto àquelas usadas pelas mulheres da Idade Média ou Idade das Trevas (como preferia Da Vinci). Ah, o chapéu é bizarro! Uma mistura gótica com rococó.
É claro que ninguém se veste assim. A imagem é uma paródia do nosso presente, uma mistura de ideais românticos e humanísticos e cibercultura. E vai muito além desta simples análise estética.
A postura da cyberpunk é de desprezo. O que ela despreza é a dominação pelo Windows e a vigilância eletrônica e não, o ciberespaço. Ela não é anti-tecnológica, mas é romântica, pois deseja o software livre para todos - talvez nunca consiga.
Se por um lado seus ideais são românticos, por outro, seu espírito é transgressor. Os cyberpunks não são teóricos, têm no hacking sua atitude principal. Estão em busca da apropriação social da tecnologia, sem utopias.
Ela encara diretamente quem a olha. Seu olhar desafiador diz: "ALô, TV Globo, com a rede nós ganhamos a alforria!"

Hum...será que tem alguma cyberpunk aí? Ou um cyberpunk?

O mito da caverna e o ciberespaço

Uma das sombrancelhas está levantada, como quando estamos diante de uma coisa nova, um questionamento inicial. A cabeça começa a se erguer enquanto o corpo continua encolhido e medroso, preso ao passado e à antigas interpretações. Mas, os olhos, mesmo desconfiados, denotam que um visionário foi despertado.
É assim que muitos se sentem - e eu me incluo nessa - diante das possibilidades da Web 2.0(detalhes: www.salatiel-laranjamecanica.blogspot.com).
A semelhança com a história de Platão, talvez não seja mera coincidência. Estávamos acorrentados, desde que nascemos, assistindo as imagens não projetadas na caverna, mas na tela da televisão. Não imaginávamos que uma outra realidade viesse tão rápido. Embora haja muita resistência, ela não pode mais ser evitada. A adaptação aos novos meios é questão de sobrevivência
Mesmo com o corpo encolido e com os pés acorrentados à cultura de massa e, mesmo ainda vivendo dentro de um país onde a maioria se satifaz em receber info-entretenimento sem ao menos questionar, é certo de que algo, dentro ou fora de nós, já mudou.
A televisão subestimou a inteligência de todos, mas a possibilidade de interatividade através da rede, fez com que o homem de Platão (simbólicamente, nós) quisesse romper as correntes e fugir à realidade da caverna para um espaço não limitado, o espaço cibernético ou ciberespaço.
Ciberdireitos, software livre, net-ativismo, hacklabs (laboratório de hackers)...Aliás, se alguém acha que hacker resume-se àquele indivíduo que pratica crimes virtuais, precisa urgentemente rever seus conceitos. (http://www.rizoma.net/interna.php?id=207&secao=espaco)
Os hacklabs têm como principal ideal lutar contra a informação pré-fabricada e as restrições impostas ao compartilhamento do conhecimento.
Estes temas e outros estarão sendo abordados neste blog. Para isso, espero contar com a ajuda de quem quiser expressar qualquer idéia, mensagem ou crítica.
Quebrem as correntes e sejam bem-vindos!

Uma alusão à "Mito da Caverna"

Uma alusão à "Mito da Caverna"