domingo, 16 de setembro de 2007

Estação Imaginário


Nesta última sexta-feira, mesmo cansada, estive e não me arrependo nem um pouco, num evento super bacana na antiga Cadeia de Santos, hoje Oficina Cultural Pagu. A entrada era apenas 1kg de alimento não perecível!
Vários artistas que estão começando mostraram muita sensibilidade, senso crítico e o mais importante: poesia.
Uma mistura de grafite, pintura, desenho à mão, vídeos e uma série de outros elementos utilizados para interagir com o expectador das obras.
Eu, que adoro desenhos e poesia, fiquei extasiada, pois já tinha perdido minhas esperanças em jovens criativos da baixada. Para minha alegria, eles me surpreenderam principalmente pela percepção que têm do mundo. Uma perceção feminina.
Pronto, agora os machões vão me lascar de críticas.
A temática das obras teve muito a ver com a nossa ligação com o mundo. Ligação afetiva e instintiva. Uma dor e um questionamento sobre um possível desligamento com a Terra, o que ocorre atualmente em nossos tempos tão dedicados ao trabalho, ao lazer do consumo e raramente dedicados ao nosso interior e origem.
Além do mais, a exposição foi uma prova de que a verdadeira essência do artista não está apenas em antender a demanda do mercado, a fuçar no Corel Draw, a fazer milagres no Photoshop, a ser diretor ou estagiário de criação. Artista é o espeto na mente a que Sócrates se referia, eu digo que artista é o alfinete na bunda dos incomodados e mais, é o que não nos deixa parar, desistir. A arte é o que impulsiona o homem, é ela quem o lembra de si, dos medos, desejos e sonhos. É loucura, mas sem perder a consciência. É sim, contradição, mas que leva a algumas certezas.
Ai que bom eventos como esses....

domingo, 5 de agosto de 2007

Operação: Mente Criminosa


Não é objetivo deste blog fazer apologias ao heavy metal. Mas como não comecei a ouvir metal ontem, portanto, é inevitável não citá-lo, ele faz parte da minha vida, das minhas idéias, do que acredito. E pode chamar-me de louca, não nego, "acredito que boas músicas podem sim, mudar o mundo!"

"Operation Mindcrime"(1988) é, para mim, um dos melhores álbuns da história do metal. Não somente pelo som "progmetal", mas, principalmente, por suas letras de críticas sociais.
Queensrÿche é uma banda americana e não poupou críticas ao modo de vida de sua própria sociedade. Neste álbum, uma música é a continuação da outra, como numa ópera-rock.

Beirando ao punk, "Operation Mindcrime" conta a história de Nikki, um dependente de drogas que quer fazer alguma coisa para mudar a sociedade, mas que se vê envolvido num plano criminoso elaborado pelo maquiavélico Dr.X que se aproveita de sua dependência química para o manipular, controlar.

Podemos até não usar drogas, mas quem nunca se sentiu como Nikki?
O desejo de mudar o mundo castrado por todos os tipos de imposições, dominações, ou até mesmo, uma aparentemente inofensiva mensagem subliminar.
Então, fica aqui a tradução da faixa 3, "Revolution Calling", pra quem gosta de peso, velocidade e transgressão.
Quem quiser ouvir pode fazer o download aqui, ou então, falar comigo.

Revolução Chamando

Por um preço eu faria de tudo
Exceto puxar o gatilho
Para isso eu precisaria de um ótimo motivo
Então ouvi sobre o Dr.X
O homem com a cura
Confira na televisão
yeah, você verá algo acontecendo

Não amo os políticos
Nem a cena louca da capital
Uma cidade maluca em polvorosa
Mas o momento é oportuno pra mudanças
Há um sentimento crescente
De que ter uma chance
Em um novo tipo de visão é necessário

Eu costumava confiar na mídia
Pra me dizer a verdade, dizer-nos a verdade
Mas agora eu tenho visto os resultados
Onde quer que eu olhe
Em quem você confia
Quando ninguém presta?

Revolução chamando
Revolução chamando
Revolução chamando você
(Há uma) Revolução chamando
Revolução chamando
Temos que mudar
Temos que levá-la, levá-la a cabo

Estou cansado de toda essa besteira
Que eles ficam me vendendo na TV
Sobre o plano comunista
E todos os oradores sombrios
Implorando pela minha grana
Contas em bancos na Suíça enquanto eles
Dão um trato em suas secretárias

Elas estão todas na Penthouse agora
Ou na revista Playboy
Histórias milionárias pra contar
Acho que Warhol não estava errado
Quinze minutos de fama
Todos usando todos
Fazendo comércio

Eu costumava achar
Que apenas o modo americano
Era o modo certo
Mas agora o santo dólar
Rege a vida de todos
Vou ganhar um milhão
Não importa quem morra

Revolução chamando Revolução chamando
Revolução chamando você (Há uma)
Revolução chamando Revolução chamando
Temos que mudar
Temos que levá-la, levá-la a cabo

Eu costumava confiar na mídia
Pra me dizer a verdade, dizer-nos a verdade
Mas agora eu tenho visto os resultados
Onde quer que eu olhe
Em quem você confia
Quando ninguém presta?

Revolução chamando
Revolução chamando
Revolução chamando você (Há uma)
Revolução chamando Revolução chamando
Temos que mudar
Temos que levá-la, levá-la a cabo

Há uma revolução!

...Trim!...Trim!
O telefone não parou de tocar desde o
Encontro hipnótico com Dr. X.
Seu plano é brilhante em sua simplicidade:
Assassinato e substituição.
Ele chama de “Operação: Crime Mental”
E Nikki é a peça chave

Nikki tem uma fraqueza.
Gosta da agulha
Dr. X se assegura que Nikki
sinta-se tão bem que possa fazer um bom trabalho
O “Anjo da Morte” escolhido
É então facilmente manipulado através de
Sugestão subliminar pelo telefone
A senha para entrar no cérebro de Nikki é
“crime mental”

domingo, 29 de julho de 2007

A didática de um país em crises.


Acredito no que dizem alguns intelectuais sobre a existência de dois Brasis.
Um que trabalha por meios honestos, na superfície. E um outro funcionando como dutos de corrupção, com ratos infiltrados em inúmeras instituições, agindo no submundo como fortes organizações que juntas roubam, corrompem.



Em algum momento, de certa forma, ambos se misturam e aí fica difícil separar o país do subúrbio ou o joio do trigo.


O Brasil - como um todo – tem tantos problemas que até fica difícil escrever sobre eles. Ai, meu Deus, por onde começar?
Bem, pode ser útil perguntar: “afinal, para quê servem as crises?”
As crises podem ser didáticas. Renan Calheiros, por exemplo. Sua vaidade patológica e a insistência inútil em continuar no Senado após todos os absurdos relembraram-nos, como numa revisão de aula, o quanto é forte o poder das oligarquias.

Inácio Arruda (PC do B) afirmou “todos são ladrões no Senado, com poucas exceções”.
Ora, ora, será Inácio uma delas? Assim, Inácio foi como a professora que sem paciência esfrega a cara do aluno no caderno de lições como se dissesse: Veja como são todos os políticos, mesmo nas piores crises não perdem a oportunidade de se promoverem.

Quando se cogitou culparem os controladores aéreos pela morte de mais de 150 pessoas no ano passado, aprendemos como é típica do Brasil a paranóia de se procurar um culpado a qualquer preço.

Depois de ter optado por um plano sugerido pela Telefônica como mais econômico, abri ontem a última conta, e depois do susto pude aprender como as grandes corporações mentem para aumentarem seus lucros. Assim como mentiu o governo quando prometeu baixar o preço do pãozinho a partir da pesagem.
Telefone e pãozinho não estão deixando sobrar nem para o passe escolar! (Atenção Translitoral: mais uma ameaçando abandonar a sustentação do monopólio.)

A verdade aprendida e sentida na pele está clara: sim, eles mentem, e pior, querem que você acredite que foi e será sempre assim, desta forma você facilita as coisas para eles.
Eles soltam brados demagógicos de que a economia está crescendo, mas sabem que ao final você se sentirá duro, deprimido e cansado de tanta roubalheira e dirá: é...o Brasil não tem jeito mesmo.


sábado, 14 de julho de 2007

OH! Quem sabe a verdade neste mundo?


Lute contra o império do medo
Cedo ou tarde eles tentarão te convencer que isso é errado.
Mas, tenho certeza...
Nós estamos certos. (Angels and Demons, Angra).

Esta semana fui à casa de um grande amigo para pegar emprestada uma mídia com SIMPLESMENTE 94 músicas do Yes (maior expoente do rock progressivo), e fiquei perplexa com sua visão religiosa.

Falando do meu sincretismo religioso e do meu fascínio por bandas que misturam as mais diversas religiões, filosofias e culturas, ele me “cortou”. Disse que ele já conhecia a Verdade, e então, para que adorar outros deuses?

Detalhe sinistro: Verdade esta que só ele e os membros de sua Igreja conhecem.

Nesta hora, pude ouvir o grito estridente de Edu: OH! Who knows the truth in this world? (Wishing Well, Angra).

Nada tem a ver com adorar querer saber, conhecer, aprender outras culturas e religiões. Gosto de músicas com influências do candomblé ao erudito, sem precisar acender velas para orixás, nem para nenhum santo.

Admiro qualquer manifestação de fé, seja similar ou oposta a minha.

A fé é importante, não os dogmas.
São pelos dogmas que os homens matam.
São pelos dogmas que guerras começam.
As religiões exigem que você aceite a sua palavra (dogmas) para existirem como instituições de poder.

Curtir o que te envolve ou

curtir aquilo que a religião lhe impôs como verdade?
A solução pode ser apelar sempre para seu sentimento interior.

Talvez, esta seja a única parte de você que nunca mente.

O que sinto em relação a tal música?
É verdadeiro? Representa o que eu realmente sinto?...
Amigos, não sejamos uns “Caçadores de Sombras”.


Correndo cego contra a fé
Correndo cego outra vez
Igrejas caem como castelos na areia
Termina a Guerra Santa.
Jesus foi um homem

Com um coração, com uma mente
Com um corpo, com uma alma
Tão divino quanto você.

Deus não tem mente, nem coração
Não tem corpo, nem alma
E não é semelhante à você.
Não!
Como se perseguisse o vento... (O Caçador de Sombras, Angra).



Running bling against the faith
Running blind again
Church is falling like castles on the sand
Ends the Holy War
Jesus was a man

With a heart, with a mind
With a body, with a soul
So divine as your own

God has no mind, has no heart
Has no body, has no soul and no resemblance of you.

No!
Like chasing the wind… (Shadow Hunter, Angra)

segunda-feira, 9 de julho de 2007

FlatLand - Uma história underground.

"Life experience
Break your shell reach the light!
Mind and soul
Find your path to the skies"... (Sprouts of Time, Angra)

"Experiência de vida
Quebre sua casca, alcance a luz!
Mente e alma
Encontre seu caminho para os céus."(Brotos do Tempo, Angra)

Durante uma reflexão sobre este trecho da música, percebi que a casca a que Rafael Bittencourt (compositor e guitarra) se refere é "O Universo numa casca de Noz" de Stephen Hawking.
Pesquisando sobre este livro, acabei encontrando outro, não menos genial. A pesquisa me levou até : FlatLand (PlanoLândia) de Edwin Abbott. Escrito no século XIX, mas que só em 2002 teve sua tradução para o português. É uma história científico-satírica que muitos não conhecem e que ressurge agora do underground.

"Era uma vez um mundo bidimensional que possuía largura e comprimento; ali não existia altura. Era como uma folha de papel. Todos em Terra Plana moviam-se livremente, como as sombras se movem sobre a Terra, totalmente inconscientes da dimensão da altura. O personagem principal da Terra Plana (Flatland) era o Quadrado.
O velho Quadrado explicava a seu neto, o Hexágono, algumas noções de geometria. (Na Terra Plana, cada geração seguinte da linhagem masculina, possuía um lado a mais que seu respectivo pai, até atingir tantos lados que se tornavam indistintos do círculo, a ordem sacerdotal. Mas, é claro, havia uma exceção, os inferiores triângulos que sempre serão triângulos). À medida que o Quadrado procurava explicar ao neto como achar a área de um quadrado, através do quadrado da medida de um de seus lados, o neto perguntou-lhe o que poderia acontecer na geometria se alguém elevasse ao cubo esta mesma medida. O Quadrado explicou, pacientemente, que não existia tal coisa de “elevado ao cubo” na geometria. O neto, confuso, continuou insistindo, até que o Quadrado, zangado, mandou para a cama, advertindo-o de que se ele fosse mais sensato e falasse menos besteira, se sairia melhor em geometria. Naquela noite, sentado e lendo o jornal, o Quadrado continuou resmungando para si mesmo: “não existe este negócio de elevado ao cubo na geometria…” De repente, ele ouviu uma voz às suas costas, dizendo: “Sim, existe!” Olhou assustado para os lados e viu uma Esfera brilhante na sala. A Esfera era uma visitante da Terra Espacial (EspaçoLândia), um mundo em que havia três dimensões como nós conhecemos aqui na Terra. E a Esfera tentou sem êxito explicar ao Quadrado o que era a Terra Espacial, quando resolveu criar para o Quadrado algo que aqui chamamos de experiência transcendental; isto é, ela o transportou para a Terra Espacial. O Quadrado abriu os olhos, olhou ao redor e disse: “Isso é uma loucura… ou então é o próprio inferno!” E a Esfera respondeu: “Não, é nenhum dos dois… Isto é o Conhecimento… Abra os olhos e olhe ao seu redor”. Assim o Quadrado fez, e excitado contudo o que via começou a falar e questionar a Esfera sobre a possibilidade da existência de mundos com quatro ou até cinco dimensões. A esfera respondeu, zangada: “Não existe tal absurdo!” E, aborrecida, mandou-o rapidamente de volta à Terra Plana. O Quadrado, desde então, rodou pela Terra Plana, pregando a visão mística de um mundo de três dimensões. Desacreditado, foi confinado numa instituição mental, onde, uma vez por ano, era visitado por um Círculo da classe dos sacerdotes, que o entrevistava e avaliava como ele estava indo. E todas as vezes ele insistia em tentar explicar ao Círculo a dimensão da Terra Espacial, e todas as vezes o Círculo, desanimado, balançava a cabeça e o deixava trancafiado por mais um ano".

Cientistas renomados como Hawking afirmam a possibilidade da existência de 10 a 11 dimensões. Nós (nossa limitada mente humana) só podemos conceber 3. Assim, representamos o "Círculo", outras vezes, bancamos o "Quadrado". Esta é uma sátira de nós mesmos. Da incapacidade humana de entender e explicar sua própria origem. E pior: da resistência ao conhecimento.
Se quisermos entender o Universo, temos que abrir nossas mentes, libertar nossas almas e perguntar com o destemor das crianças:
"Com o que se parece um buraco negro? Qual é a menor porção de matéria? Por que nos lembramos do passado e não do futuro? Como se explica, se houve um caos primordial, que haja ordem agora, pelo menos aparentemente? E por que existe um universo?"(Carl Sagan).


Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito... (Shakespeare, Hamlet, Ato 2, cena2).

quinta-feira, 5 de julho de 2007

De férias com os titios do Angra.




“Em mim, a sabedoria e a tolice se encontram. E quando a sabedoria e a tolice se encontram há uma transcendência”. (Osho).

Guerra no Complexo do Alemão trazendo um pouco do épico ao nosso cotidiano. Música de fundo: Spread your Fire. Câmeras enquadram um corpo ensangüentado, ao lado, moradores abandonam o morro. Balas cruzam o ar. Nada escapa aos olhos do cameraman. Guerra ou êxtase?

Finalmente a mídia esqueceu a paranóia terrorista.
Aliás, onde andarão os fundamentalistas? Dando um tempo? Hum... tempos de suspense.
No som, Falaschi canta a saga de um cavaleiro das Cruzadas.
Ontem, católicos queimavam templos, hoje, islâmicos caçam infiéis. O século XI é agora! De fundo:
Temple of Hate.

Na TV, uma reportagem do “garoto testemunha do assassinato dos pais”. Em seus olhos paira uma sombra do sentido trágico da vida. Bem baixinho: Winds of Destination.

Corta imagem para: “a volta por cima da família depois da perda do menino Ives”.
Alguns poucos minutos de esperança. Um exemplo de amor em tempos de cólera. Toca:
Late Redemption.
Milton Nascimento faz dueto com Edu: “Cante uma canção desconhecida. Plante mais lembranças na sua vida. Nada além do amor é o que parece. Toda a minha dor na minha prece”.

Enxugo os olhos marejados para ver melhor o que surgiu na tela agora.
A apresentadora do Fantástico sorri e dá uma notícia ruim: “ondas de 30 metros varrem a costa brasileira a 350 km/hora”.
Naufragam edifícios, teatros, centros comunitários, close de um paraíba morrendo afogado. Corta para o céu azul:
Abrem-se os buracos da camada de ozônio. De lá saem os primeiros anjos do apocalipse. Edu Falaschi canta:
"Angels back to live! Arise!"


Deixo o niilismo de sua voz impregnar meus ouvidos: “God’s abandoned this world!”

A música ondulante do candomblé me acalma. Posso sentir Carolina aqui.
Enquanto a água invade, caboclos cabeludos fazem riffs de guitarras e cantam, em coro, com vozes agudas:
“Salve, Salve Iemanjá.
Salve Janaína.
E tudo o que se fez n’água.
Jogam flores para o mar,
Deus, salve a Rainha.
E o meu passo nessa esfera...
Um caboclo de orixás
Logo deixa a Terra
Vai de encontro à sua sina
Onde o céu encontra o mar
Achará seu porto
E é assim que isso termina”... (
Carolina IV)


Aos titios do Angra, toda a minha gratidão: pelos shows que são sempre impecáveis e, principalmente, pela sensação de se estar muito bem acompanhada quando se está apenas só, ouvindo música.


terça-feira, 26 de junho de 2007

Perversão poética

Chegou à porta.
Um frio glacial me percorre a espinha. Sim, é ela.

Vestido vermelho, superdecotado, como nas cenas mais clichês do cinema. O corpo tão à mostra, tão explícito erotismo. Ela, que já foi revolucionária, agora quer ser apenas coisa.

Já havia me contado uma vez - recordo enquanto finjo escrever - sua inveja das putas. “Invejo as putas porque elas são objetos. Coisas, objetos não têm sofrimento.”

Abro a gaveta para procurar um pente e encontro o comprimido para dor de cabeça. Engulo, assim, a seco mesmo. Mãos trêmulas, boca sem saliva. Ora, por que o nervosismo?

O que ela realmente invejava nas putas era o seu lado mercadoria, a facilidade de se oferecer, o impudor, o orgasmo fácil, o rápido coito e a ausência de culpa.

Veio buscar o suéter esquecido no armário há meses. Entrou sem nada dizer. Me senti observado. Notou minhas resenhas no lixo. Seria sádica? Teria vindo até ali só para rir da minha decadência? Da minha impotência criativa?

Da porta até o armário, caminhou mostrando as curvas. Mexeu o cabelo que esconde um inconsciente cheio de problemas. Imediatamente, me veio à mente a frase: “o explícito nega a transgressão.” Ela, que quis tanto a liberdade, a banalizou. Revelou tudo e estragou a aura mística do pecado. Ela é um tesão que me brocha.

Abro um sorriso verdadeiramente sádico. A idéia finalmente flui. Me delicio com perversões poéticas. Escrevo como há muito não escrevia. Com o que me divirto? Riu do quanto um pé na bunda me fez andar para frente.


Uma alusão à "Mito da Caverna"

Uma alusão à "Mito da Caverna"