Um mito – que não me serve – de um Deus colérico e intolerante que foi criado há séculos atrás pelo próprio homem.
Esse Deus que ainda é adorado por muitos fez do prazer um tabu e do sexo algo sujo que serve apenas para a reprodução.
Antes de ir para a fogueira eu digo que nem sempre foi assim:
Na pré-história o homem considerava a mulher envolta numa aura mística porque, além de sangrar todo mês, ela também conhecia o “segredo” de ter bebês. Foi principalmente por esses motivos que a mulher foi a primeira divindade adorada.
Antes de ir para a fogueira eu assumo que o desenho acima fui eu mesma quem fez. Ele retrata o período matriarcal. Bons tempos em que o sexo estava totalmente ligado à atitude religiosa.
Celebrando, agradecendo ou suplicando, homem e mulher ofereciam o ato sexual à deusa. Era um ato honroso e respeitoso.
Eram tempos de uma Deusa divertida que sem medos experimentava o amor ilimitado (veja o sorriso safado nos lábios delas).
Os homens eram como servos. Faziam pequenos trabalhos para serem valorizados e obterem sexo. Não tinham o poder em suas mãos. Até que alguns se rebelaram.
Antes de ir para a fogueira eu digo que os rebelados eram certamente os mais magrelos, os mais feios e todos os broxas.
Antes de ir para a fogueira eu devidamente acuso esses frustrados de terem criado o mito do mau filho que depois veio a se chamar Satanás. Eles disseminaram dúvidas sobre o poder das mulheres, diziam: “Será que esse modo de governar feminino realmente está certo?”
E continuaram: “A Deusa das Deusas um dia gerou um filho que era mau. Ele lutou contra a mãe por seu próprio trono. Expulso, voltou aparecer agora disfarçado.”
Diziam os broxas: “Como sabemos que a Deusa que adoramos é a própria Deusa? Poderia ser o mau filho disfarçado a nos enganar. E quem poderá combatê-lo?”
Magrelos e feios: “Certamente não a Deusa, pois ela é sábia demais e tem compaixão, mas não força bruta. Vamos criar o Deus protetor da Deusa!”
Antes de ir para a fogueira eu digo que foi assim que o Deus masculino foi criado.
Surgiram outros mitos de outros deuses, entre eles o Deus ciumento: “É melhor amar a mim e a ninguém mais!!!!”
Antes de ir para a fogueira eu digo que infelizmente toda a idéia de divindade foi deturpada.
Antes de ir para a fogueira eu falo mais do desenho que fiz acima. Ele demonstra o que a Igreja fez com as mulheres e o sexo. A liberdade e a celebração desta energia vital foram transformadas no que vocês, meus inquisidores, chamaram de pecado.
Deturparam o deus pã (deus da agricultura, natureza e dos instintos sexuais) e nem ao menos foram criativos nisto, roubaram-lhe os chifres, o corpo metade homem e metade animal, o nariz de tomada etc. Plagiaram a figura de deus pã e rebatizaram-na de Satanás, diabo, boizebú...
Antes de ir para a fogueira digo com tristeza na alma que em quase todas as religiões Deus em vez de ser a fonte de todo amor, tornou-se a fonte de todo o medo.
Antes de ir para a fogueira pergunto aos senhores meus Inquisidores: “Como pode o sexo não ser sagrado?”
Antes de ir para a fogueira peço a meus Inquisidores que, quando se deitarem com suas parceiras, misturem o que chamam de sagrado e o profano e verão que não há diferença entre ambos.
Não existe separação no mundo de Deus.
Antes de ir para a fogueira lhes digo que o prazer tem dois aspectos. Um faz vocês esquecerem de quem realmente são, e o outro faz vocês lembrarem de quem realmente são. Um é o aspecto físico do sexo, o outro é seu aspecto espiritual.
Antes de ir para a fogueira lhes digo também que através destes dois aspectos do prazer perceberão que os corpos de quem amam tornar-se-ão o seu. E suas almas não mais se imaginarão separadas de coisa alguma.
Antes de ir para a fogueira eu digo que esta é uma das mais fascinantes e prazerosas experiências da Unicidade, do Todo, de Deus.